sábado, 2 de março de 2013

She Will Be Loved - Se conhecendo melhor


                Dei o meu melhor sorriso safado. Transamos até ele se cansar, ou seja, demorou para pararmos. Seu toque era suave, diferente dos outros que me tocavam com brutalidade. Seu corpo era frio, enquanto o meu era quente. Uma música calma tocava. Bryan era cuidadoso em tudo. Eu arranhava sua costa e ele massageava meus seios carinhosamente. Em uma só transa havia sentido mais prazer que em todas as outras juntas e de longe aquela era a melhor.
Depois que paramos bebemos vinho e ficamos conversando sobre coisas bobas como o clima e liquidações. Acabei pegando no sono com a cabeça apoiada no braço dele que estava esticado.
- Megan? Megan! Já são 9 horas, vamos lá, acorda. – ouvi uma voz fraca ao fundo. Minha cabeça doía. Abri os olhos devagar e ele estava sentado ao meu lado e me olhava estranho. Passei as mãos pelo rosto e respirei fundo. Só então me dei conta de que o lençol que me cobria não estava mais sobre meu corpo. Sorri envergonhada e logo pensei “Qual é? Vocês transaram ontem!”. Reparei que ele usava uma camisa branca com mangas dobradas até o meio do braço e uma bermuda jeans. Bryan sabia escolher as roupas que caiam perfeitamente nele.
                “Megan, ele é só mais um. Não é um amigo e nem um colega. Logo você irá embora e será como todos os dias”, uma voz dentro da minha cabeça me alertou. Ele não estava mais no quarto. Levantei e fui direto pra onde deixei minhas roupas, depois de me vestir andei até a sala e o vi largado no sofá assistindo a um jogo de basquete.
- Bryan. – ele virou a cabeça e sorriu para mim. Deu dois tapas ao seu lado indicando que era pra eu sentar ali. Assim que o fiz reparei as panquecas e os copos de suco de laranja em cima da mesinha.
- Eu... não sei cozinhar muito bem. Mas fiz o melhor que pude com as panquecas, acho que estão engolíveis. – ele riu pelo nariz.
- Desculpe, eu preciso ir embora. Você pode me levar ou me dar um dinheiro a mais para eu pegar um táxi.
- Mas você acabou de acordar. Toma café comigo. – ele me olhou pela primeira vez nos olhos. E não deixei de perceber que eram lindos. Tinham um tom claro, mas não chegavam a ser verdes ou azuis. Difícil de explicar.
- Eu não devia nem ter dormido aqui. Eu precisava ter voltado pra boate.
- Então quer dizer que costuma ficar com mais de um numa mesma noite? – ele ergueu a sobrancelha direita. Sorri involuntariamente. Geralmente não acharia graça de um comentário como esse.
- Olha, foi bom ficar com você, mas se quiser mais minha companhia, vou cobrar duas noites. – ele riu me fazendo rir junto. – E você tem que sair.
- Do que está falando? – ele me olhou confuso.
- Sua roupa. Um homem que mora sozinho não se veste assim para ficar em casa.
- Quem disse que eu moro sozinho?
- Você tem alguém?! – perguntei de imediato.
- Não. – ele riu – Moro com minha irmã mais nova. - com essa resposta entendi o porquê de a casa não ser tão bagunçada – E eu realmente vou sair. Com você.
                Minha expressão mudou radicalmente. A palavra que definia o que estava sentindo era simples: confusão. Nesses meses de prostituição nenhum homem nunca quis sair comigo de dia. Com raras exceções, mas todos queriam apenas sexo. Era o que eu sabia fazer.
- Por favor, não tente encontrar uma desculpa para não ir. Pode me cobrar o dobro, eu não ligo, mas sua companhia é legal e não tenho nada pra fazer o dia todo.
                Eu parecia uma idiota. Tentando decifrar tudo que ele dizia sem dizer nada.
- Tudo bem. Mas eu preciso ir pra casa trocar a roupa.
- Sinceramente prefiro você nu. - o encarei séria e ele riu – Mas antes experimente as panquecas e o suco.
                Fiz o que ele disse e percebi que não me importaria de comer aquilo todas as manhãs da minha vida.
- Você pode não saber cozinhar, mas dizer que as panquecas estão engolíveis só está sendo modesto. São as melhores que eu já comi.
- Obrigado. Receita de família. Quer mais alguma coisa?
- Não, obrigada.
- Podemos ir?
                Assenti e me levantei. Bryan fez o mesmo em seguida e fomos pro carro. Ele deu a partida e meus pensamentos já estavam longe. Observei as pessoas lavando as garagens, cuidando dos jardins, crianças brincando, adolescentes rindo, pessoas aparentemente felizes. Imaginava se eu era como eles. Será que parecia bem aos olhos de alguém? Será que conseguia esconder com o sorriso o inferno que estava vivendo?
- Onde é sua casa? – a voz de Bryan interrompeu meus pensamentos.
- Perto da boate. Dirija até lá e depois te explico o resto.
                Demoramos cerca de quarenta minutos para chegar, o trânsito era a única coisa que não gostava em Las Vegas, sempre amei essa cidade. Tomei um banho rápido e Bryan esperava sentado na minha cama enquanto eu escolhia uma roupa para colocar. Não encontrava nada bom o suficiente, afinal não costumava sair de casa. Peguei uma calça jeans clara e uma regata com as cores azul, verde, branco e vermelho. Vesti-me e calcei um salto pequeno preto. Parei na frente de Bryan e olhei pra mim mesma.
- Não tenho nada melhor.
- Relaxa, não vamos a um casamento ou algo assim.
- Onde vai me levar?
- Surpresa.
- Não gosto de surpresas.
- Por que?
- Sou curiosa. – ele riu.
                Bryan segurou minha mão e voltamos pro carro. Depois de uns 15 minutos ele estacionou o carro e ainda não sabia exatamente onde íamos. Descemos e ele foi andando pela calçada, eu o segui e chegamos a uma sorveteria.
- Sorvete a essa hora?
- Não vejo problema – ele sorriu de canto.
                Entramos ali e subimos as escadas, saímos num lugar coberto por uma tenda grande, tinha alguns vasos de flores e várias mesas. Era como a sacada de um sobrado, mas maior. Tinha uma vista perfeita da cidade e dava para ver uma ou duas praias. Poucas pessoas estavam ali.
- É lindo aqui. – disse quando ele chegou do meu lado.
- Sempre venho pra cá quando quero ficar sozinho.
                Sentamo-nos um de frente pro outro e logo uma garçonete apareceu.
- Ei, Bryan! Como você está? Faz tempo que não te vejo – ela deu um beijo em sua bochecha esquerda.
- Oi, Jenny. Estou bem e você? Ando ocupado ultimamente.
- Tudo em ordem – ela sorriu e olhou para mim.
- Essa é Megan, uma... conhecida minha.
- Oi – ela lançou-me um sorriso amarelo. Apenas assenti.
- Quero um milk-shake de morango – depois de anotar o pedido ela dirigiu-se a mim.
- E você?
- Um sundae.
                Ela saiu descendo as escadas e notei que Bryan me encarava.
- Você gosta do que faz?
- Se eu gosto de me prostituir? – perguntei de volta depois de pensar um pouco em sua pergunta.
- Isso.
- Acho que no máximo apenas 5 em cada 50 mulheres que fazem isso fazem por opção própria. Devo dizer que faço parte das outras 45.
- Então por que não faz outra coisa?
- Não tenho opção. É uma questão de sobrevivência. Foi o único jeito que encontrei de me sustentar. E por favor, não estou aqui pra falar sobre isso.
- Desculpe, eu entendo.
                “Não, não entende. Você não sabe metade do que eu já passei”, pensei, mas não disse nada, apenas sorri fraco.
- Posso te fazer uma pergunta? Mas tudo bem se não quiser responder – fiz que sim com a cabeça, a curiosidade sempre era maior.
- O que faria se não fosse prostituta?
                Aquela pergunta me intrigou. Na verdade nunca tinha pensado naquilo antes.
- Não sei. Gosto de animais, talvez fosse veterinária ou algo assim. Qualquer coisa que seja digna – umedeci os lábios – E quanto a você? O que faz?
- Estou no 4º ano da faculdade de medicina.
- Sério? Não tem cara de médico.
- Todos me dizem isso – ele sorriu –Já pensei em desistir várias vezes, mas pensar que quando acabar poderei salvar vidas sempre me manteve firme.
- Você realmente é muito mais do que aparenta ser – pensei alto e ele pareceu perceber isso, pois não disse nada.   
                A garota chegou com nossos pedidos e quando provei vi que além da vista ser maravilhosa, o sorvete também era.
- Você tem quantos anos?
- Adivinha.
- Quinze?
- Fala sério! – soltei uma risada que aos meus ouvidos soou estranha.
- Certo... Hum... Vinte e um?
- Dezenove. Tenho cara de mais velha?
- Tem rosto de dezesseis e corpo de... – ele pensou um pouco e depois completou – vinte três.
- Isso é bom – sorri sem graça – E você?
- Adivinha – ele tentou imitar minha voz numa tentativa que falhou e me fez rir.
- Vinte e quatro?
- Andou mexendo na minha carteira?
- É claro que não! Mexi só no RG.
                Ele riu e gostava da sensação de fazê-lo rir. Ficamos em silêncio por uns minutos e estava desconfortável com aquela situação, Bryan não parava de me olhar.
- O que você quer de mim? – perguntei sem pensar, quando percebi já tinha saído.
- Como?
- O que você quer de mim? – repeti.
- Não quero nada.
- Para. Eu não nasci ontem. Duvido que você faça a mesma coisa com toda prostituta que leva pra casa. Ou faz? Trás todas elas aqui e pergunta sua idade e o que fariam se não fizessem o que fazem? É um tipo de repórter? Grava as conversas e depois vende pra um programa de televisão?
- Vou ser sincero com você. Nunca fiz isso antes. Mas eu realmente gostei da sua companhia ontem e queria passar mais tempo com você, te conhecer melhor. Só isso. Por favor, não estraga tudo.
- É o que eu faço de melhor depois de sexo. Estrago tudo. Como você pode querer me conhecer? Por que logo eu? – parecia uma louca falando e estava ciente disso, mas não podia controlar.
- Eu simplesmente gostei de você. Mas eu entendo se não quiser ter amigos ou quaisquer outras relações além do sexo com alguém – ele foi arrogante.
                Fiquei em silêncio e me levantei da cadeira, Bryan fez o mesmo em seguida e desci as escadas e fui até a porta o esperando. Logo ele apareceu, pagou a conta e trocou algumas palavras com a “Jenny”. Entramos no carro e no caminho não dizemos nada. Ele parou o carro em frente a minha casa e se manteve intacto olhando pro volante.
- Desculpe, eu fui idiota – reconheci.
- Eu não devia ter insistido, você nem queria ir.
                Não gostei de saber que ele se arrependera de ter me chamado.
- Não. Por favor, olha. Você é a 1ª pessoa que mostra interesse em me conhecer desde que cheguei aqui. Eu só não esperava por isso. E te agradeço pelo passeio. Pode me chamar quando quiser.
- Chamarei – ele sorriu e lhe dei um selinho demorado. Olhei-o pela última vez e sai do carro. Entrei em casa e fui direto pro quarto, olhei no relógio e eram 12h30. Joguei-me na cama e fiquei repassando em minha mente os momentos da minha noite e daquela manhã. 

Continua...

Olá, gostaram desse capítulo? Podem mandar críticas, elogios, qualquer coisa. Sobre os comentários, fiquei feliz da vida quando vi que eram 7, mas depois percebi que 4 eram da mesma pessoa e peço pra que não faça isso. Claro que quanto mais comentários melhor e mais inspirada eu fico, mas não adianta nada se forem da mesma pessoa. Enfim, se continuarem com isso vou tirar a opção de comentar em anônimo. Se estiverem gostando, e se puderem, por favor indiquem pra amigas, etc. Obrigada por lerem e me sigam no twitter, @biebbos. Até a próxima meninas.