Coloquei o copo na mesinha de centro e fui até a geladeira. Assim que a
abri, vi que precisaria ir ao mercado logo. Não tinha muitas coisas além de
verduras, azeitonas, queijo, uma vasilha com feijão e torradas. Peguei um
pequeno prato e coloquei algumas azeitonas verdes, voltei para o sofá e
enquanto as degustava, pensava no que minha vida havia se tornado.
A televisão estava
ligada em um canal que não me interessei saber qual era.
Agora fazia algo
que nunca imaginei que fosse capaz.
O telefone tocou e
eu corri para atendê-lo, mesmo já sabendo quem era.
- Alô?
- Boa tarde, Megan. - não, não era quem eu pensei que fosse. Era meu
advogado, reconhecia pela voz rouca.
- Olá, Dr. Smith. Alguma novidade? - perguntei ansiosa pela resposta.
- Sim, mas não muito boa. O seu julgamento foi marcado para o dia 13 de
maio, daqui 1 mês.
- Por que essa demora? Quero resolver logo isso. - estava impaciente.
- Foi o dia mais perto que o tribunal estava livre. Muitas pessoas andam
fazendo coisas erradas. - brincou ele, mas não achei graça. – Como está seu
trabalho?
- Bem, eu acho... – não gostava de falar sobre aquilo. – Preciso desligar
agora. Bom fim de tarde, aguardo o Senhor entrar em contato comigo.
Não o deixei
responder e desliguei o telefone. Olhei pras minhas vestimentas e decidi que
precisava comprar umas roupas decentes. Minha blusa estava surrada e cheia de
bolinhas, e a calça de moletom, que era preta, estava cinza. Ainda assim
preferia minhas roupas de ficar em casa do que as de trabalhar. E quem me dera
se esse fosse meu maior problema. Sorri com meus pensamentos. O telefone tocou
novamente.
- Oi.
- Megan? Aqui é da boate.
- Eu sei. Vão precisar de mim hoje?
- Sim, a Vanessa não poderá vir. Esteja aqui às 19:30.
O telefone foi
desligado. Ainda não havia me acostumado, sempre que me chamavam para ir até lá
ficava feliz e triste ao mesmo tempo. Desliguei a televisão e me dirigi até o
banheiro. Despi-me na frente do espelho e me perguntei onde eu havia errado. Minha
pele branca demais para alguém que mora em Las Vegas. Cabelo longo e ondulado
tingido de preto. Olhos verdes que escondiam um mistério que eu mesma ainda não
sabia. Corpo magro com algumas cicatrizes de cortes. Uma mulher de 19 anos que
não via sentido na vida, mas mesmo assim não parava de lutar. Olhos que falavam
mais que palavras. Gestos que transmitiam amor. Não tinha mais onde buscar
forças, cada dia que passava a esperança diminuía, a desanimação aumentava. A
rotina havia tomado conta da minha vida, e pior que isso, estava acompanhada da
tristeza. Dose perfeita para entrar em depressão, ou pular de uma ponte. Mas
algo me mantinha de pé, no fundo, bem no fundo, eu tinha esperança de sair
daquela situação.
Liguei o chuveiro e
deixei a água gelada cair sobre minha pele, olhei para o ralo e desejei que
todos os sentimentos ruins que possuía fossem embora também. Pensei no que
faria quando me resolvesse na justiça e arrumasse um trabalho digno, talvez
buscasse fazer algumas amizades. Conhecer lugares novos. Ler outros livros.
Contar outras piadas. Mudar o estilo das roupas. Dançar músicas diferentes.
Chorar com filmes de terror e ter medo de filmes de comédia. Quem sabe adotar
um cãozinho. Quem sabe adotar uma criança. Quem sabe....
Desliguei o
chuveiro e me enrolei na toalha. No quarto, abri o guarda-roupa e senti nojo de
mim mesma ao encarar o que havia ali. Não era muito raro o sentimento de
inferioridade. Vesti-me com uma blusa tomara que caia vermelha, um shorts jeans
escuro bem curto, e uma meia fina preta. Calcei um salto alto vermelho e passei
uma maquiagem razoável. No cabelo fiz um rabo de cavalo, e terminei colocando
um colar no qual no pingente tinha meu nome. Dei um sorriso forçado me olhando
no espelho, tranquei a casa, e fui em direção à boate.
Quando olhei no
relógio era 19h15, e decidi ir mais devagar, pois tinha tempo de sobra. Na rua
as pessoas me olhavam como se eu fosse de outro mundo, algumas mulheres me
olhavam com pena, outras com olhar de superioridade. Os homens notavam meu
corpo, os adolescentes eram indecifráveis. Tinha me acostumado com aquilo,
afinal o que mais eu esperaria? Se estivesse no lugar deles - quem me dera -,
faria o mesmo.
Prostituta. Garota
de programa. Entenda como quiser.
Não foi uma opção
de vida, era uma questão de sobrevivência. Não me orgulhava daquilo nem um
pouco, pelo contrário, sentia vergonha. Mas ou era isso, ou morreria de fome.
Tentei várias vezes pedir ajuda nos semáforos, porém no fim do dia o máximo que
conseguia era R$ 10,00. Sem família. Sem amigos. Sem nada.
Cheguei à boate,
entrando pela porta dos fundos e fui direto para a pista de dança. Tocava
Starships – Nicki Minaj. Comecei a dançar conforme as batidas da música, e
percebi os olhares em mim, que eram inevitáveis. Fui até o balcão e pedi para o
barman, que mesmo “trabalhando” ali a alguns meses ainda não sabia o nome, uma
dose de whisky. Parecia que fazer aquilo era mais fácil quando não estava
totalmente sóbria. Logo que ele me entregou o copo virei-o na boca e bebi tudo
em um só gole. Senti o homem ao meu lado me encarando e já estava
desconfortável. Estava ali exatamente para atrair olhares e transar com um
desconhecido, mas não gostava de me lembrar disso. Preferia imaginar que iria
apenas me divertir, sem compromisso, sem ter que ir para o motel com qualquer
um. Queria estar ali para dançar e beber até cair, e depois levar sermão de
alguns amigos ou até parentes. Mas nem isso eu tinha.
Voltei para a pista
de dança e algumas horas se passaram. Já havia tomado mais 3 doses de whisky,
mas ainda estava sóbria. Digamos que era forte para bebidas. Notei pela quarta
vez na noite o homem que estava sentado em frente o balcão e me encarava. Ele
parecia ter no máximo 25 anos. O cabelo loiro e curto, o tom bronzeado da pele
era ressaltado pela regata branca que usava. Tinha músculos notáveis, mas não
era bombado. Usava uma calça jeans e calçava um supras dourado. Sua altura era
de aproximadamente 1,89 e tinha expressões faciais fáceis de serem desvendadas.
Vi algumas meninas irem até ele, conversavam, mas ele não saia de lá. E sempre
me encarando.
Cai na real quando
a música acabou e começou a tocar outra que eu não conhecia, resolvi ir ao
banheiro para ver como estava minha situação, afinal não havia conseguido sair
da boate desde que cheguei. Arrumei o lápis que estava um pouco borrado e
quando ia saindo um grupo de meninas entraram, elas riam e não pareciam ser prostitutas.
Senti uma ponta de inveja e sai dali. Fechei a porta atrás de mim e respirei
fundo. Logo senti uma mão gelada segurar meu braço e meu coração foi a mil.
Instantaneamente dei um grito fraco e me virei pra trás. Era o homem que me
encarava.
- Desculpe, não quis assustá-la. – ele sorriu e notei seus dentes
incrivelmente brancos.
- Da próxima vez pode tentar me chamar de um jeito diferente. – disse me
recuperando.
- Próxima vez? – ele perguntou mas não respondi, afinal não tinha
entendido. – Acho que podemos sair daqui. – ele disse próximo do meu ouvido e
me arrepiei.
Ele me lançou um
olhar indicando que era para segui-lo e saiu andando. Fui logo atrás dele
esbarrando nas pessoas com certa brutalidade e deixando algumas delas para trás
me xingando, ele andava rápido e era difícil acompanhar. Chegamos à rua e
andamos dois quarteirões até ele parar do lado do banco do passageiro de uma
Range Rover e abrir a porta para que eu entrasse. Assim que o fiz, no segundo
seguinte ele estava sentado no banco do motorista. Ele encarou o cinto
atravessando meu corpo e riu.
- Eu costumo saber o nome dos homens que eu saio.
- E o que isso muda pra você?
O olhei incrédula e
ele riu. Depois de pensar um pouco conclui que realmente não mudava nada, e
sinceramente, não me importava de saber o nome deles. Mas o homem ao meu lado
me intrigava e eu estava interessada no nome dele. Há algo de errado com isso?
- Estou brincando. Sou o Bryan. E você?
- O que isso muda? – sorri sarcástica e ele sorriu também. – Sou a
Megan.
- Prazer.
- Não acha que é cedo pra isso? – ele riu pelo nariz. – Pra onde vamos?
- Pra minha casa.
- Achei que me levaria ao motel. Afinal que tipo de homem põe uma
desconhecida em casa?
- Escolho muito bem minhas parceiras da noite.
- Qual critério usa pra isso?
- A pupila.
Não, não fazia
sentido, mas e daí? Percebi então que era o primeiro homem desde comecei a ser
garota de programa com o qual havia puxado assunto. E quando ligou o carro, vi
que não havíamos saído do lugar. Ele saiu cantando pneu e fomos o caminho todo
em silêncio, o único som era a música que tocava no rádio. Quando tocava
músicas que o agradavam, ele aumentava o som a ponto de alguém que estivesse a
dois quilômetros pudesse ouvir, e quando não era de seu interesse ele abaixava
o som até quase não conseguir escutar. Bryan parou o carro de frente ao portão
de um condomínio, tirou uma chave do bolso, foi até lá e o abriu. Depois de
entrar com o carro fechou o portão e andou alguns quarteirões até estacionar no
jardim de uma casa. As construções ali eram todas abertas, sobrados e casas de
todos os tamanhos e estilos. Desci do carro e respirei fundo, parecia ser um
ótimo lugar para morar. O ar era limpo devido à grande quantidade de árvores e
plantas. Entrei na casa logo depois que Bryan entrou, por fora parecia ser
simples, mas por dentro era completamente diferente. Imobiliária sofisticada,
quadros coloridos nas paredes. Num canto ou outro havia uma cueca suja jogada
no chão, camiseta, ou caixa de pizza. Coisa típica em casa de homem que mora
sozinho, pensei. Achei até que estava organizado demais. Ouvi um barulho vindo
do fundo de um corredor e me dei conta de que estava sozinha na sala. E de
repente lembrei-me do motivo de estar ali. Sai andando pelo corredor e entrei
na última porta, como eu imaginava, era um quarto.
- Bryan? – chamei seu nome mas o silêncio pairou.
Sentei-me na cama
macia e logo ouvi um barulho atrás de mim. Virei a cabeça e ele estava sem
camiseta com um copo de vinho em uma das mãos, e a outra estava dentro do bolso
de sua calça. Ele sorriu ao me ver.
- Pronta pra começar a brincar? – disse com a voz grossa.
Continua...
Oi gente, demorei pra postar mas fiz o melhor que pude pra esse capítulo ficar bom. Espero que gostem, até a próxima.