segunda-feira, 29 de julho de 2013

She Will Be Loved - Eu tenho claustrofobia

                Justin entrou no mesmo alguns segundos depois.
- Vou passar no hotel que estou hospedado para trocar de roupa, você se importa? – ele perguntou me olhando de canto, apenas fiz sinal negativo com a cabeça, minha mente estava atordoada demais para responder e ele pareceu entender que eu não queria conversa.
                A ideia de que provavelmente encontraria meu pai depois de nove anos me parecia extremamente fascinante e improvável ao mesmo tempo. Fiquei pensando em como ele escapara do acidente, o corpo dele estava bem deformado e me ocorreu a ideia de que afinal poderia não ser ele sendo enterrado. Eu queria acreditar nisso. Mas a polícia não se confundiria a tal ponto... Ou será possível? Tinham tantos corpos para examinar, estavam atordoados, provavelmente com pressa de ir pra casa e descansar, a fim de esquecer aquilo... Decididamente poderia ter havido algum engano. Mas por que ele me procurara só agora? Poderia me ver abraçando-o para sempre, sentindo o conforto de sua proteção paternal, me dizendo que eu não precisaria mais me prostituir e que tudo ficaria bem. Mas ao mesmo tempo queria gritar com ele e perguntar por que não aparecera antes, dizer que vivi inutilmente um inferno na casa dos meus tios enquanto ele estava apenas se escondendo. Talvez estivesse sendo egoísta mas estava demasiada confusa para ver isso. A imagem de meus pais se despedindo de mim no aeroporto me veio à mente sem pedir permissão. Eu insistira para ir junto mas minha mãe não deixou, e se ela pudesse falar comigo hoje tenho certeza que diria “não me arrependo do que fiz”. Talvez se eu tivesse insistido um pouco mais ela cederia e eu teria estado com as pessoas mais importantes pra mim nos últimos minutos das nossas vidas, e com certeza não me arrependeria por estar morta. “Se cuide, querida. Vemos você em breve”, foi a última frase que ouvi de meu pai. “Nós te amamos!” minha mãe completou, quando me soltou de um longo abraço. Então, cerca de uma hora depois, quando estava assistindo televisão com minha vizinha – que cuidaria de mim enquanto meus pais estivessem fora -, aparece um boletim urgente de notícias, e desde que ouvi e processei as palavras “Avião que ia em direção a Brasil cai no mar, próximo à ilha e não há sinal de sobreviventes” minha vida nunca mais foi a mesma. Sempre vemos coisas assim na tv mas nunca pensamos que irá acontecer conosco, mas até que um dia o destino te prega uma peça dessas. Minha mãe sempre dizia que quando eu fosse adolescente ela iria me querer conhecer meus namorados e que é sempre bom andar com uma lata de spray de pimenta na bolsa, caso ele mereça um pouco de ardência nos olhos. Contudo, tive apenas um namorado na época entre meus 15 e 17 anos. Depois descobri que ele me traia e terminamos. Sempre preferi ficar com os meninos, relacionamentos sérios que davam arrepios e acho que isso ajudou no meu lance de depois dos 18 sair da casa dos meus tios e virar prostituta. Minha vida não era o que uma pessoa poderia considerar boa, embora precisasse admitir que a vida de outras pessoas eram muito piores que a minha. Meu pai era do tipo que sempre contava histórias antes de dormir e se algum menino chegasse perto de mim já ficava olhando de canto de olho, minha mãe dizia que era ciúmes mas eu não entendia.
- Megan? Você está bem? – uma voz conhecida falou baixo, fazendo-me voltar à realidade.   
                Justin havia parado o carro no acostamento de uma avenida movimentada, alguns carros passavam e buzinavam. Sua mão direita estava embaixo da minha, apertando-a, enquanto a esquerda se encontrava alisando minha bochecha. Só então percebi que estava chorando feito uma criança. Justin olhava para mim com ar preocupado.
- Não – solucei entre o choro – Eu sinto falta deles – disse e disparei as lágrimas novamente.
                Era como se uma faca estivesse atravessando meu peito. Só quem não tem os pais vivos poderiam ter ideia da sensação. E nesses nove anos, fora o dia do enterro, eu não me lembro de ter chorado por isso mais do que cinco vezes. Sempre evitava tocar no assunto e quando o choro ameaçava sair eu fazia o máximo pra segurar, costumava dar certo, mas dessa vez eu mal me dei conta de que queria chorar.
                Justin não disse nada. Ao invés disso, me abraçou. Demorei para acreditar no que ele fizera e retribuir o abraço. Ele me apertava contra seu corpo como se quisesse ter feito isso faz tempo. Seu cheiro se apoderou das minhas narinas, não usava perfume, era apenas um cheiro bom, seu cheiro natural. Senti que o choro estava quase cessando e deixei as últimas lágrimas escorrerem quando apertei meus olhos com força. Uma de minhas mãos puxava Justin para mais perto de mim – se é que era possível - pelas costas e a outra estava passeando entre seus fios macios de cabelo. Meus soluços ainda eram presentes e logo que percebi o que estava fazendo me senti subitamente idiota. Já estava melhor para soltar Justin mas permaneci o abraçando por mais dois minutos, apenas para sentir nossa pele uma contra a outra. O único som agora era de nossas respirações, a dele, calma, a minha, ofegante.
- Desculpe – murmurei, sem querer, em seu ouvido.
- Tudo bem. Vai ficar tudo bem. – disse com a voz abafada, me fazendo perceber que estava o apertando demais. Soltei-o devagar e quando já estava cada um em seu acento limpei as lágrimas com as costas das mãos. Justin me lançou um olhar diferente, não saberia dizer exatamente como, mas eu gostei. Ele sorriu fraco e eu fiz o mesmo, sem mostrar os dentes.
                Ninguém disse mais nada, então Justin ligou o carro e voltamos ao caminho até seu hotel. Sentia-me mais aliviada e sem vontade alguma de continuar pensando nos meus pais, sabia que aquilo só me faria mal. Abaixei o vidro todo e senti a brisa forte, porém nada fria, tocar meu rosto bruscamente. Percebi então que Justin entrava no estacionamento de um hotel de no mínimo 15 andares, tinha um jardim na frente e as sacadas de cada apartamento eram maiores que a sala da minha casa. Olhei para trás e não acreditei no que via.
- Está hospedado em um hotel de frente pra praia? – perguntei, sem querer, parecendo incrédula.
- Sim – ele disse como se fosse a coisa mais normal do mundo – Por quê?
- Nada – não deixaria que ele soubesse o quão impressionada sobre sua riqueza eu estava.
                Justin estacionou o carro e saiamos, ele veio até mim e passou um braço pelo meu pescoço, automaticamente o envolvi pela cintura também. Começamos a caminhar e ouvi um barulho que indicava que o carro havia sido fechado. Entramos no elevador e Justin apertou alguns botões, na hora em que o mesmo começou a subir senti Justin me apertar mais forte contra seu corpo de lado, a cada segundo que passava ele me segurava com mais força.
- Justin – disse numa voz baixa que pareceu mais um gemido.
- Desculpe – ele relaxou o braço, ainda em volta de meu pescoço – Eu tenho claustrofobia.
                Segurei uma risada alta mas acho que não deu muito certo pois... 
- Do que está rindo? – disse sério, sem olhar pra mim, em seguida umedeceu os lábios.
- Quem te viu quem te vê, Justin – disse risonha – Um homem do seu tamanho, de sei lá, 25 anos? Cheio de tatuagem, que aparenta ser chefe de uma gangue das mais fodas pelas atitudes, com medo de lugares pequenos? – ri novamente, dessa vez sem tentar evitar.
- Na verdade faz 23 anos que o chefão aqui nasceu – ele brincou, gargalhando e me olhando pelo canto do olho.
- Quatro anos de diferença, se eu tivesse dois a menos isso seria pedofilia.
- Não esqueça que não estou te obrigando a nada. E com certeza já transou com homens mais velhos, estou errado? – ele olhou pra mim.
                Meu estômago se revirou no mesmo instante que lembrei como era fazer sexo com eles. Nojento era a palavra perfeita para essas situações.
- Como eu imaginava... – Justin disse e sorriu, me odiei momentaneamente, eu e minha mania de demonstrar demais – E por favor, você é ainda é uma criança, com 19 anos devia estar brincando de boneca. – ele continuava a me olhar e senti meu rosto queimar quando sorriu pra mim.
- Falou o adulto que tem só 4 anos a mais – disse entredentes. Meu bom humor evaporara.
- Posso perguntar uma coisa? Ah, já estou perguntando. Alguma vez aconteceu de rolar sexo lésbico com você? – ele perguntou cautelosamente, como se eu pudesse levar como uma ofensa. Não consegui conter o riso, e meu humor mudara novamente. Justin me olhou tipo “Você é louca? Isso não tem graça”.
- Não, Justin – sorri, meus olhos grudados nos dele – Nunca cheguei ao ponto de passar tanta necessidade de dinheiro – ele assentiu.
- É porque eu adoraria ver isso com meus próprios olhos, em filmes é legal mas nada se compara à presenciar pessoalmente. Então se qualquer dia você for colar velcro, me chame – ri do quão idiota ele era, Justin riu também.
                O elevador parou, Justin tirou os braços do meu pescoço e saiu andando na frente, eu o acompanhei me esforçando para dar passos mais rápidos. Ele abriu uma porta e depois de eu entrar fechou-a. Estávamos na cozinha, não era tão grande, talvez um pouco maior que a minha, mas a sofisticação nem poderia ser comparada. Era tudo na cor prata, o que deu um charme ao local. Fui para o outro cômodo e me deparei com a sala de jantar. Uma mesa grande e de madeira preenchia a maior parte do espaço, atrás dela podia-se ver um tipo de balcão com um armário junto, onde em cima encontravam-se alguns porta-retratos e papéis. Acima deles havia um espelho grande. No canto esquerdo dali, um mini bar tinha quatro bancos e vários vinhos pendurados. Depois de uma bancada de mármore, tinha-se a sala. Dois sofás grandes e beges estavam postos, com uma mesinha de centro contendo algumas revistas e um prato com uma porção de frios e azeitonas. A televisão era LCD e estava “pregada na parede”, enquanto abaixo dela havia uma estante baixa. Caminhei até a outra porta e me vi dentro do quarto. A cama estava coberta por um edredom branco e ali havia vários travesseiros da mesma cor, dois quadros estavam enfeitando a parede da janela, um de cada lado. Ao lado da cama havia um balcão, onde em cima havia um notebook e na sua frente uma cadeira de escritório, na parede oposta outra televisão fora pregada. Ao lado da janela uma porta estava entreaberta, empurrando-a um pouco cheguei à varanda. Uma banheira de hidromassagem espumava ao canto direito, uma churrasqueira pequena estava do lado de uma mesa redonda com duas cadeiras, dois vasos de plantas enfeitavam o ambiente.
                Ouvi uma porta se fechar atrás de mim e virei-me me lembrando de Justin.
- Gostou? Queria ter ficado no Grand Palace’s Hotel mas eles estavam com todos os quartos lotados – ele fez cara de desaprovação.
- Isso aqui é o paraíso perto da minha casa – disse olhando ao redor, quando meus olhos pararam no violão preto em cima da cama – Você toca? – perguntei apontando pra ele.
- Só por diversão – ele respondeu dando de ombros. Assenti.
- Se importa de tocar pra mim? – perguntei antes que pudesse me dar conta.
- Bem... Faz tempo que não toco pra alguém e... Eu posso treinar antes e depois toco pra você – disse sem jeito.
- Por favor? – perguntei fazendo cara de pidona – Só uma música. E eu não comento com ninguém, juro – ele me olhou como se avaliasse se eu merecia ou não. Por fim cedeu.  
                Justin andou até o violão e sentou-se na cama, segurando-o como deveria. Sentei-me um pouco afastada esperando que ele começasse. Ouvi-o pigarrear. Parecia nervoso. Umedeceu os lábios e então começou.
- I need you boo I gotta see you boo And there's hearts all over the world tonight Said there's hearts all over the world tonight, I need you boo I gotta see you boo, And there's hearts all over the world tonight Said there's hearts all over the world tonigh, Hey lil' mama, ooh you're a stunner, Hot little figure, yes you a winner, and I'm so glad to be yours You're a class of your own and Ooh little cutie, when you talk to me I swear the whole world stops, You're my sweetheart and I'm so glad that you're mine You are one of a kind, and You mean to me what I mean to you And together baby there is nothing we won't d, 'Cause if I got you I don't need money I don't need cars, Girl you're my all.             
                Justin parou de tocar, então não sabia ao certo como começar a falar.
- Justin... Você... É maravilhoso! De verdade! – suspirei – Quer dizer, sua voz é incrível, alguém já te disse isso?
- Algumas vezes – ele sorriu olhando pro violão.
- Já pensou em seguir carreira de cantor? – ele riu ironicamente.
- Tá falando sério? – assenti e ele fez sinal negativo com a cabeça – O máximo que eu conseguiria seria cantar em alguns bares.
- Se pensar assim vai mesmo, mas se acreditar que pode ir além, você vai além. Tudo depende de  você.
- Tanto faz – disse olhando para mim e poderia jurar que havia um pouco de tristeza em seus olhos – Eu trabalho com meu pai cuidando de uma empresa de sabonetes e se isso me sustenta, estou bem assim.
- Isso é inacreditável . Do que adianta ter dinheiro continuando o trabalho do seu pai se não está feliz assim? Vai atrás do que você gosta, tem potencial pra ir muito longe, eu garanto.
- Eu cantava com meus amigos em Stratford. Eu pretendia continuar. Mas meu pai começou a implicar dizendo que isso não é uma carreira digna. Ele nunca aceitaria.
- Stratford? Mas de qualquer forma agora você já tem 23 anos e não precisa mais fazer o que seu pai quer que faça.
- Sim, fica no Canadá. Nasci e cresci lá, sai de casa pra viajar pelo mundo aos 15 anos. Meus pais até chamara a polícia mas era tarde demais, contei com a ajuda de amigos mais velhos pra sair do país. Volto regularmente para ver como estão as coisas mas não passo mais de três dias na casa dos meus pais. Meu pai é o tipo que só pensa em trabalhar e minha mãe só pensa em gastar e me julgar por qualquer coisa. É um inferno.
- Não sei o que é pior. Não ter os pais vivos ou ter os pais vivos assim – respirei fundo – Justin, o que acha de gravarmos um vídeo cantando alguma música e postarmos no Youtube?
- O que? Não! Pra que?
- Sei lá, às vezes alguém importante vê e... Pode pelo menos pensar nisso com carinho?
- Posso pensar.
                Sorri por ganhar sua teimosia.
- O que acha de fazermos brigadeiro?
- Birigadeiro? Que diabos é isso? – perguntou se levantou e indo até uma porta do guarda-roupas, abrindo-a e fuçando nas roupas. Ri com sua pronúncia.
- Bri-ga-de-i-ro – ele me olhou com cara de “não vou repetir” e voltou a atenção para as roupas – É um doce brasileiro. Na verdade o melhor doce brasileiro. A melhor coisa que eles inventaram. Já esteve no Brasil?
- É um país que sempre quis ir, acho interessante a cultura das mulheres serem gostosas e “sabarem” na época de “carnival”.
- Sabia que não é educado falar de outras mulheres quando você tem uma na sua cama? Ainda mais do jeito que eu estou? – disse e deitei-me de lado, apoiando a cabeça na mão e piscando quando ele se virou para me olhar. Fez cara de tédio e eu ri.
- Megan, você não conta. Mal saiu das fraldas, pirralha – ele riu baixo e logo parou quando sentiu o travesseiro que eu jogara bater contra sua costa. Justin virou-se lentamente com o olhar sério, porém eu sabia que estava se segurando para não rir – Vai se arrepender por ter feito isso.
                Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, sai correndo, quase escorregara no tapete da sala que não reparara que estava ali antes. Cheguei na cozinha e peguei uma frigideira que estava secando e coloquei-a na minha frente esperando que Justin chegasse logo atrás. Ele não veio. Passou-se um minuto.
- Justin? Justin?! – gritei não muito alto.
                Sem resposta. A preocupação começara a me invadir. Fui andando cautelosamente até o quarto e lá estava ele, caído perto da porta do guarda-roupa com a cabeça virada de lado. Meu coração acelerou. E se ele tivesse tido um ataque, derrame ou algo do tipo? Será que pensariam que eu era a culpada? Aproximei e me abaixei, vi seu peito levantar e descer e um alívio tomou conta de mim. Independente do que fosse, ele ainda estava vivo. Virei o rosto dele pra mim e dei batidinhas de leve, esperando que ele acordasse.
- Justin! Por favor! Não faça isso comigo! Acorda logo!
                Num segundo que me pareceu mais rápido que o normal, estava sendo empurrada para o lado e Justin segurava meus pulsos, prendendo-me contra o chão. Vagabundo. Desgraçado. Filho da puta. Todos os palavrões possíveis se passaram pela minha cabeça aquela hora, mas estava com demasiada raiva para dizê-los. Justin sorria o tempo todo e isso me irritava mais. Ele soltou uma de minhas mãos e levou a sua para debaixo do meu braço, me fazendo contorcer-me em cócegas. Eu implorava para que ele parasse como se fosse me ouvir. Parecia estar se divertindo com minha situação. Justin começou a mexer com os dois lados e me imaginei como uma cobra rastejando no chão para tentar se esquivar do gavião. Juntei todas as minhas forças e levei uma de minhas mãos para seu pescoço e puxei-o bruscamente para mais perto. Levantei um pouco a cabeça e colei nossos lábios. Eu devia ter pensado que um beijo era a maneira perfeita de pará-lo, pois era mesmo. No mesmo instante ele parou as mãos na minha cintura, apertando-a um pouco. Aprofundei o beijo e sem esperar invadi sua boca com minha língua. Justin sorriu entre o beijo e mordi seu lábio inferior. Parei o beijo e distribui selinhos curtos pela sua boca rosada.
- Vai fazer o doce – disse ainda com os olhos fechados, se jogando ao meu lado.

                Justin estava sentado de lado com as pernas abertas, uma cima do sofá e a outra caída, com uma lata de cerveja na mão e olhou para mim assim que entrei em seu campo de visão.
- Acho melhor parar de beber isso, vai fazer o brigadeiro parecer ruim.
                Caminhei até ele e me sentei no meio das suas pernas, entregando-lhe uma das colheres que estava no prato com o brigadeiro. Justin pegou um pouco do doce enquanto eu já enchia minha colher. Depois de provar, ficou olhando pra mim de um jeito estranho e engraçado.
- Esse. É. O. Melhor. Doce. Do. Mundo. – disse pausadamente como se estivesse em transe.
- Eu te disse! – falei num tom pouco elevado.
                Justin e eu enchemos a colher até acabar. Deixei o prato na pia e voltei a sentar no mesmo lugar. Deitei minha cabeça em seu ombro e prestei atenção no que passava na tv. Jogo de basquete. Justin me deu um beijo na bochecha demorado e em seguida cheirou meu pescoço, fazendo minha espinha arrepiar-se. Ele percebeu pois sorriu com o efeito.
- Você é a primeira pessoa que me ouve tocar depois de três anos – disse enquanto alisava fios do meu cabelo.
- Por que parou? – perguntei com a voz rouca.
- Vi que não me levaria a lugar algum. Só não consigo me desfazer do violão. Foi o primeiro que eu tive.
- Justin – levantei a cabeça e olhei em seus olhos, estavam da mesma cor de mel de sempre – Eu acredito em você. Acredito que tenha capacidade. Se algum dia achar que não, me chame e eu falo de novo e de novo e de novo se necessário. Você só precisa acreditar em você mesmo.
- Obrigado – ele sorriu mostrando todos os dentes.
- Seu sorriso é lindo, alguém já te disse? – falei olhando para sua boca.
                Justin sorriu mais que antes, mesmo que eu não acreditasse ser possível.
- O seu também é. Aliás, você é linda. – senti minhas bochechas corarem. Justin beijou-as novamente e riu fraco.

                Encostei novamente a cabeça em seu ombro e respirei fundo. Era bom ficar assim. Era bom estar com ele. 

Continua...
Espero que gostem, beijo. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

She Will Be Loved - Sexo e um bilhete misterioso

                A casa era escura e os móveis, velhos. Podia ver claramente que os cupins andaram roendo uma escrivaninha e uma mesa, o pó subia sempre que mexia em algo e estava tudo bagunçado como se alguém estivera ali procurando algo. Dava facilmente para ser usada em um filme de terror. Comecei a subir as escadas e ouvi a madeira frouxa ranger sob meus pés. Abri cuidadosamente a primeira porta que vi. Era um banheiro, o espelho estava quebrado e a pia coberta de, acreditava eu, algum fungo. Mas isso não era o pior. A claridade entrava por uma janela pequena e com isso pude ver o box coberto de um líquido vermelho. Sangue. Olhei para meus pés e algumas minhocas deslizavam sobre o chão perto deles. Abafei um grito e sai dali, batendo a porta com toda força que pude. No mesmo instante ouvi o baque de algo caindo no chão em algum cômodo do fim do corredor. Andei até a última porta e a abri cautelosamente. Era um quarto. A cama estava coberta de sangue e ao seu lado, caído, havia um corpo. Corri até ele e me abaixei, mas logo me arrependi. Era um menino, diria que no máximo de 8 anos. Tinha cortes profundos por todo corpo e deles ainda saia sangue. Coloquei a mão em seu coração e ele já não batia mais, o pobre garoto perdera muito sangue. A porta se fechou de repente e quis pensar que fosse o vento, mas não ventava ali. Minha cabeça estava a mil e imaginei que estava vendo e ouvindo coisas. Meu coração mais acelerado do que eu jamais pensei ser capaz. Tentei gritar mas minha voz não saiu. Ouvi passos se aproximando e o desespero começou a ser cada vez maior. Só então senti que havia alguém atrás de mim. Prendi a respiração e me virei, a claridade não foi suficiente para ver quem era, mas era para que eu visse a serra de prata reluzindo a pouca luz que havia ali.
- Megan! Megan! Acorda! – senti alguém segurando meu braço com força e me sacudindo.
Sentei-me rapidamente na cama com a respiração ofegante, olhei no relógio ao lado e ele marcava 20 horas. Ao meu lado Bryan me lançava um olhar de “até que enfim”.
- Parece que alguém teve um pesadelo – sua voz estava mais grossa do que eu me lembrava.
- O que está fazendo aqui? E como entrou? Eu... – parei quando percebi que tinha sido indelicada e abaixei o olhar.
- Faz tempo que não nos vemos e eu decidi vir, parece que se eu não te procuro você não o faz – ele ergueu uma sobrancelha – A porta estava aberta.
- Cochilei quando eram 16 horas, já devia estar na boate e... – ele me interrompeu.
- Posso perguntar algo? – não me esperou responder – Por que é tão viciada em trabalho?
- Eu não sou assim. Mas diferente de você eu dependo disso pra pagar as contas e comprar comida.
- Qual é a sua, hein Megan? – seu tom soou triste – Eu duvido que alguma outra pessoa já tenha tentado se aproximar de você e quando isso acontece você quer afastar? Aliás, quantas amigas ou amigos você tem? Me fala o nome de alguém que se preocupe com você que não seja eu ou o pessoal que eu te apresentei.
- Eu só não quero que você confunda as coisas. Será que não percebe que não posso me comprometer?
- Ninguém nunca disse nada sobre ter algo sério.
                Suspirei e me levantei indo em direção à cozinha. Abri a geladeira e tirei dali uma jarra de suco natural de laranja, despejei o mesmo em um copo na pia e o sonho veio à minha mente. Era estranho pois nunca havia tido um pesadelo antes. Virei e Bryan estava a dois passos de mim.
- Vou embora. Se decidir ter amigos ou alguém pra conversar sabe onde me procurar. Eu gosto de você.
                O encarei nos olhos por um bom tempo. Eles estavam mais claros que o de costume. Bryan sorriu sem mostrar os dentes. Deu um passo e então pude sentir sua respiração, ele levou sua mão à minha bochecha direita e a acariciou. Seus olhos que estavam presos nos meus passaram a olhar meus lábios. Bryan deu um beijo rápido no canto de minha boca e depois beijou minha testa demoradamente. Podia imaginá-lo de olhos fechados nesse momento. Ele me olhou mais uma vez e saiu em direção à sala. Mas não podia deixar que fosse assim. Corri até a porta e Bryan estava quase saindo quando se virou para mim. Dei mais alguns passos rápidos e o abracei com toda força que pude. Depois de alguns segundos senti seus braços me envolvendo, ele me apertou contra seu corpo e me elevou no chão alguns centímetros. Seu perfume estava forte e tive certeza de que ele mudara, era melhor que o antigo. Bryan foi me soltando aos poucos e logo estávamos com os rostos colados novamente. Olhei seus lábios que estavam umedecidos e sem pensar duas vezes os selei. Não pareceu suficiente pra mim. Aprofundei o selinho, transformando-o em um beijo quente. Bryan riu baixo e não consegui conter o sorriso. Ele desceu a mão até minha bunda e ao mesmo tempo em que a apertava, a pressionava contra seu corpo. Dei um pequeno pulo e em um movimento rápido entrelacei minhas pernas em sua cintura, com as mãos em volta de seu pescoço e sem deixar o beijo se romper. Bryan no mesmo instante colocou as duas mãos nas minhas coxas para me segurar e foi andando até o quarto. Trombamos em algumas coisas e ele parecia estar tonto. Ele me colocou na cama com calma e ajoelhou-se deixando meu corpo entre suas pernas. Tirou a camiseta e pude admirar seu tórax que estava mais malhado que da última vez que o vira. Livrei-me de minha camisola sem esforço e joguei-a em algum canto do quarto, Bryan tirou a bermuda mas permaneceu de cueca. Provavelmente sabia o efeito que o volume dentro de uma causava em mim. Ele caiu de boca nos meus seios, os apertando e dando leves beijos, mas logo se irritou e puxou meu sutiã com tanta força que acabou o rasgando. Minhas mãos estavam passeando por seu cabelo um pouco molhado. Bryan desceu pra minha barriga e passou as unhas de leve na mesma fazendo minha espinha arrepiar. Estava demorando e não queria enrolação, não aquele dia. Inverti nossas posições enquanto beijava seu pescoço e passei por todo seu abdômen fazendo o mesmo. Quando chegou em sua cueca a apertei e senti seu pênis já ereto, sentei-me um pouco acima dele e fiz movimentos circulares. Suas mãos encontraram minhas coxas e ele as apertava enquanto se contorcia na cama. Cansei daquilo e desci, rasguei sua cueca e envolvi seu pênis em minha mão, o apertei e fiz movimento de vai e vem. Bryan soltou um gemido baixo e eu sorri. Rapidamente inverteu nossas posições e foi direto na direção de minha vagina, rasgando minha calcinha e sem demora levando os dedos até minha intimidade. Ele introduziu três dedos em mim e soltei um gemido alto, arranhando o colchão com força. Bryan deu um beijo na minha barriga e tirando os dedos de minha vagina, deitou-se por cima de mim e voltou a me beijar. Abri as pernas e entrelaçando-as entre ele, as cruzei em sua costa. Senti seu pênis pulsando roçar minha intimidade e meu útero pareceu querer gritar.
- Tem certeza de que quer isso? – ele perguntou em um sussurro.
- Eu quero você – respondi com a voz abafada. – Vai logo.
                Então sem esperar mais, Bryan nos uniu e soltei um gemido mais alto que o anterior. Levei minhas mãos à sua costa e a arranhei sem dó. Ele fez alguns movimentos mais fortes e logo depois caiu ao meu lado, com a respiração tão rápida quanto a minha. Não havíamos chegado ao nosso ápice, mas foi suficiente para nos satisfazermos. Me enrolei no lençol e deitei em seu peito. Passando meus dedos por sua barriga, pensei no que ele dissera mais cedo. Talvez Bryan tivesse razão. Bem no fundo eu sabia que tinha. É claro que queria amigos e alguém com quem pudesse contar. Só não conseguia confiar nas pessoas.
- Está com fome? – sua voz interrompeu meus pensamentos.
- Sim, e você? – respondi olhando pra ele que assentiu – Vou pedir uma pizza.
                Levantei-me da cama com o lençol enrolado no corpo e coloquei um roupão duas vezes maior que eu. Peguei o telefone na cozinha e pedi uma pizza de pepperoni. Voltei pro quarto e Bryan me deu um sorriso.
- Quer tomar banho?
- Achei que me convidaria pra passar a noite aqui hoje – ele disse fazendo bico.
- Eu chamaria, mas amanhã vou ao mercado cedo e você não vai querer acordar 8 horas da manhã.
- Por que você tem que ir?
- Porque preciso ir faz tempo e se deixar pra ir de tarde fica muito cheio.
- Vai depois de amanhã, poxa.
- Eu não posso, Bryan Teimoso Roberts.
- Como...? Ah, o RG - ele sorriu e fez um gesto para que fosse deitar ali.
[...]
                Andava entre as prateleiras pegando só o essencial, não podia exagerar. O mercado estava vazio em geral, as pessoas preferiam resolver as coisas no mercado a tarde. Abaixei-me pra pegar uma caixa de cereal e senti um empurrão no meu carrinho, me fazendo quase cair também. Joguei o cereal ali e quando olhei pra pessoa por trás do empurro fiquei surpresa. Justin.
- M-Megan? O que faz aqui?
- Acho que compras. E você? Ah, espera. Nem preciso perguntar. Empurrando o carrinho dos outros – disse rapidamente.
                Ele vestia uma camiseta de uma mulher com os seios à amostra e a mão do Mickey pegando neles. Não parecia ter cinto algum segurando sua bermuda jeans e seu Adidas era branco com o símbolo preto.
- Desculpe. Mas não devia se esconder atrás do carrinho...
- Idiota. Eu estava pegando... Ah, deixa pra lá – me virei de costa pra ele mas Justin deu alguns passos e pegou meu braço.
- Vai fazer o que hoje? – seus olhos cor de mel estavam fixos nos meus, o que me fez perder a linha de raciocínio.
- Nada. Provavelmente dormir a tarde e ir pra boate a noite.
- Posso almoçar com você? – estranhei sua proposta e provavelmente demonstrei isso – É que aprendi como se faz um macarrão com carne e queria... treinar.
- E vai me usar como cobaia para experimentar – sorri.
- Entenda como quiser – ele riu – Então...?
- Eu topo – respondi sem pensar. Se fosse para fazer amigos que começasse logo. Mesmo que Justin não fosse a melhor ideia de amigo que eu tivesse.
                Terminamos de pegar as coisas que precisaríamos, passamos no caixa, colocados tudo no Mustang de Justin e fomos pra casa. Lá ele me ajudou a descarregar tudo e comecei a separar as coisas que precisaria para fazer o macarrão. Justin disse que faria mas estava vendo que ia sobrar tudo pra mim.
- Ei, Megan! – ele chamou da sala – Vem aqui.
- O que você quer? Estou ocupada, diferente de você.
- É rápido.
                Fui até lá e Justin apontou pra mesinha de centro. Havia ali um papel pequeno embaixo de uma revista.
- Foi você quem deixou isso ai?
- Não... Mas quem poderia ter sido? – perguntei intrigada. Bryan é o único além de Justin que sabe onde é minha casa mas ele ligaria ou deixaria uma mensagem na caixa postal. 
- Não pergunte pra mim. Achei estranho.
                Peguei o papel, olhei pra Justin e sentei-me ao seu lado. Desdobrei e li devagar, não querendo acreditar.
“Olá, Megan. É o papai, eu sei que acha que estou morto, mas consegui escapar àquele acidente. Sua mãe infelizmente se foi. Fiquei naquela ilha por alguns anos, até um grupo de navegadores me encontrar. Eles me deixaram em Flórida, mas eu não tinha nada, dinheiro, roupa, comida... Família. Então fui jogar para conseguir dinheiro e acabei arrumando briga com uns caras. Agora estou em Los Angeles, mas tenho medo de ir até você e alguém me seguir e acabarem te machucando também. Por isso peço que me encontre, estou na Rua das Esmeraldas, no porão da casa número 50. Não demore, estou com saudade. Venha sozinha. Eu te amo”.
                Meu coração acelerou incontrolavelmente e minhas mãos começaram a tremer. As lágrimas tomaram conta de meu rosto e olhei para Justin que me olhava preocupado.
- É do meu pai. Mas não é possível, ele está morto! Não é possível! – gritei e ele tirou o bilhete de minha mão.
                Várias possibilidades passaram pela minha mente, queria que fosse verdade mas não podia ser.
- Como seus pais morreram mesmo? – Justin perguntou depois de deixar o bilhete de lado.
- Acidente de avião. Eu vi o corpo do meu pai no caixão, eu vi ele sendo enterrado.
- Então isso é uma pegadinha de alguém de mau gosto. Conhece alguém que poderia fazer isso?
- Tem meus tios, com quem eu morei depois que fiquei órfã. Mas eles não sabem meu endereço e posso afirmar que não perderiam tempo fazendo isso. Tem outra coisa, a caligrafia. É perfeitamente igual do meu pai. Lembro-me muito bem de quando ele me ajudava com as lições de casa e eu olhava a letra dele e pensava que quando crescesse gostaria que a minha fosse igual. Meu pai pode estar vivo, Justin – disse com a voz esperançosa.
- Não sei não, Megan. Isso está estranho. Você disse que viu ele ser enterrado.
- Eu sei, mas se tem a possibilidade de ele estar vivo, eu vou atrás e verei com meus próprios olhos se é verdade ou não.
- Não vou deixar você fazer isso, é perigoso. Pode ser uma armadilha, você não vê? – ele disse num tom bravo.
- Quero ver você me impedir.
                Peguei minha bolsa e levantei-me, Justin fez o mesmo rapidamente.
- Então eu vou com você.
- Ele pediu pra eu ir sozinha.
- Você nem sabe se o “ele” é seu pai.

                Revirei os olhos e sai dali, indo direto pro seu carro.
Continua...