terça-feira, 24 de setembro de 2013

She Will Be Loved - Você gosta de mim?

                Antes de descermos do táxi Justin deu um beijo com bafo de álcool no rosto do motorista, o que o deixou com raiva e o fez pedir que eu saísse dali logo com Justin. Segurei-o firme enquanto fechava a porta do carro e ainda ria com a reação nervosa do homem de cerca de 50 anos.
- Eu posso ir sozinho – disse Justin com a voz embargada, dando um passo à frente e desvencilhando-se do meu braço que o apoiava.
                Justin estendeu os dois braços e andou abruptamente até tropeçar na guia e cair de bunda na calçada. Imaginei que sua intenção era segurar-se no poste ao lado, mas foi na direção contrária. Aproximei-me dele e ofereci minha mão para ajudá-lo a levantar-se, porém ele não a segurou. Apenas olhou para mim e deu dois tapinhas do seu lado. Sentei-me ali e senti a mistura do seu perfume com o cheiro de álcool. Ficamos assim durante um tempo, sem dizer nada, apenas de bobeira. Desejei que ele estivesse sóbrio. Seu olhar estava distante. Eu olhava para frente, às vezes para ele, mas não percebia.
- Trisha, você é tão linda. Eu sinto sua falta. Desculpe ter errado com você. Sei que sou um estúpido. Não consigo esquecer tudo que vivi com você. Se eu pudesse faria tudo de novo e mudaria o final da nossa história. Queria que você estivesse aqui. – Justin disse pausadamente e com a voz arrastada, quebrando o longo silêncio. A cada frase eu ficava mais intrigada, mas quando disse a última, senti meu coração fraquejar. Senti-me horrível por ele estar comigo pensando em outra pessoa. Isso só mostrava o quanto insuficiente eu era. Tudo bem, ele estava bêbado, mas dizem que é quando as pessoas dizem as verdades. E eu sempre acreditei nisso.
                Justin abaixou a cabeça. Ouvir aquilo me fez mal, mas sem dúvida alguma vê-lo naquela situação era imensuráveis vezes pior. E juntando tudo, eu me sentia tão insignificante quanto uma formiga no meio da multidão de humanos. Queria poder fazê-lo feliz, queria que o fizesse esquecer Trisha, independente de quem tenha sido e do que aconteceu com ela. Mas sabia, talvez mais que muita gente, que no nosso coração os lugares de algumas pessoas não podem simplesmente ser ocupados por outras.
- Vamos entrar? Está ficando frio aqui – disse passando as mãos pelos braços, como se aquilo fosse ajudar a me esquentar.
                Levantei-me e quando ia me virar parar ajudar Justin a fazer o mesmo, ele já havia feito. Mais do que isso, estava de frente com o portão de minha casa olhando fixamente para o... chão? Aproximei-me e ele nem se mexeu. Depois começou a rir baixo, e seu riso foi se erguendo até chegar a ser uma gargalhada. Tive vontade de batê-lo por ser tão idiota. Parecia que tinham lhe contado a melhor piada do mundo.
- Isso... – disse fazendo esforço para recuperar o ar – Isso... É um portal! – respirou fundo e parou de rir abruptamente, como se tivesse percebido que a piada não tem graça alguma, e sua expressão ficou séria – Vem, Megan. Você precisa me ajudar a encontrar a passagem secreta, só precisamos descobrir onde fica e consequentemente como abri-la, se trabalharmos juntos não teremos problemas com isso. – disse andando de um lado para o outro, parecendo um nerd paranoico e obcecado procurando a resposta de uma questão. “Então agora você lembra meu nome”, pensei. Justin abaixou-se e se ajoelhou diante do portão, tateando o chão com as duas mãos como se fosse possível um pedaço de concreto sair dali com tal facilidade. – Vamos conseguir chegar em Groenlândia, sei que vamos. E depois disso nunca mais sofreremos, porque em Groenlândia ninguém sofre. Lá poderemos fazer o que quisermos sem medo de nos julgarem. Em Groenlândia a vida é diferente. É o paraíso para qualquer pessoa. Groen... Lândia. Estamos quase lá. Não podemos desistir, não vamos. Os rios são feitos de milk-shake e as folhas das árvores são batatas fritas. É melhor que o País das Maravilhas. Em Groenlândia todos seremos amigos, cantaremos músicas que falam sobre paz enquanto estivermos unidos em um círculo perfeito com as mãos dadas e girando livremente. Quem quiser apenas sussurrar, poderá apenas sussurrar, quem quiser gritar, poderá gritar. Lá seremos finalmente as pessoas dentro de nós que são tão reprimidas pela sociedade nesse mundo injusto. Em Groenlândia não há sociedade. Todos somos livres. Não existem diferenças. Não existe morte. Não existe doença. Não existe dor. Podemos tanto comer algodão doce o dia todo e não pegar diabete, quanto usar drogas o dia todo e não morrer de overdose. Como eu disse... É o paraíso. Precisamos nos salvar, precisamos chegar em Groenlândia. As paredes têm gosto de paçoca e o telhado de doce de abóbora. A primeira coisa que farei quando chegarmos é brincar com as crianças de amarelinha. As crianças... Seres tão adoráveis. Como podem existir pessoas que não gostam delas? São tão inocentes. Espere mais um pouco. Estou chegando lá. Groenlândia... – murmurava alto o suficiente para eu escutar enquanto continuava a parecer um louco que precisa se internar em um hospital psiquiátrico o mais rápido possível em um quarto com segurança reforçada.
                Não sabia se ria ou me preocupava por vê-lo naquela situação deplorável. Dizem que quando bêbadas cada pessoa tem uma reação. Então a dele era essa, ser bipolar, ficar mais idiota do que normalmente é e relembrar coisas do passado?
- Justin – chamei enquanto me abaixava e segurava seus dois pulsos, quando consegui fazer com que ele prestasse atenção em mim continuei – Depois você pode vim continuar procurando o portal, mas não vai querer chegar em Groenlândia cheirando mal, vai? – Imediatamente ele se levantou.
                Entramos em casa e joguei as chaves no sofá. Quando olhei ao meu redor, Justin já não estava mais ali. Fui até meu quarto e ouvi um murmúrio vindo do banheiro. Assim que adentrei ali observei Justin com as duas mãos apoiadas no vidro do box, ele as olhava fixamente enquanto mexia os dedos e sorria. “É, te dar banho vai ser uma coisa difícil”, pensei.
- Você precisa tirar a roupa – disse chamando sua atenção, Justin virou-se para mim e mordeu os lábios, fazendo uma cara de safado – Não é para o que está pensando. Precisa é de um banho.
                Justin deu de ombros e voltou-se para o box transparente, bufei. Fui até ele e comecei a puxar sua camiseta para cima, ele ergueu os braços para facilitar e depois de tirada, deixei-a cair no cesto de roupa suja. Observei por um momento as pintinhas em sua costa e as curvas perfeitas que ela fazia. Justin pigarreou e segurei sua cintura, fazendo-o virar-se de frente para mim. Coloquei as mãos na barra da sua calça e logo a desabotoei e abri seu zíper. Em seguida abaixei-a e Justin terminou tirando os pés. Ele me olhou de cima a baixo e quando me dei conta estava a poucos centímetros do meu rosto. Olhei para seus lábios e estavam perto demais para que eu pudesse resistir. Beijei-o calmamente, suas mãos segurando minha cintura enquanto apertava meu corpo contra o seu e as minhas arranhando levemente sua costa. Mordi seu lábio e pude jurar que ele sorrira. Desfiz o beijo e fiquei sem jeito, petrificada, Justin me olhando sem expressão. Apontei para o chuveiro e ele assentiu. Sai do banheiro e respirei fundo, como se ali estivesse me faltando oxigênio. Fui para cozinha e preparei rapidamente um macarrão com queijo. Quando voltei ao quarto Justin estava sentado na minha cama só de cueca e secando o cabelo com uma toalha branca. Assim que percebeu minha presença parou e me olhou. Mas aquele não era o olhar do Justin bêbado, era o olhar do Justin sóbrio que mesmo sendo implicante eu gostava. Não saberia dizer se o banho o ajudara 100%, mas aparentemente ele estava bem melhor.
- Eu não achei outra, então usei a que tinha no banheiro – disse se referindo à toalha.
- Tudo bem – sorri internamente por saber que ele pensava que eu me importaria com isso. – A comida está pronta. – disse e sai em direção à cozinha, com Justin atrás de mim.
                Devo admitir que, apesar de estar acostumada a vê-lo de cueca, era estranho vê-lo de cueca na minha sala em um momento no qual não pensávamos em transar. Depois de jantarmos, colocamos meu colchão de casal na sala e jogamos sobre ele travesseiros e cobertas. Não fazia frio. Na verdade estávamos com o ventilador do teto rodando no volume máximo e mesmo assim não parecia suficiente. No entanto o costume de dormir enrolada nas cobertas era mais forte que o calor. Colocamos “Invocação do Mal” no aparelho de DVD e nos deitamos. A princípio, mantivemos uma distância um do outro. Mas logo Justin abriu o braço e eu me aconcheguei no seu ombro. Seu cheiro natural invadindo minha narina mais uma vez. Ele parecia realmente totalmente sóbrio, e era bom não tê-lo cheirando álcool. É claro que fui contra a escolha desse filme, implorei que víssemos uma comédia, mas Justin prometeu que na próxima vez eu escolheria e que me protegeria se ficasse com medo. Acreditei nele como uma criança acredita na história da cegonha. Confiar em Justin era algo que de alguma maneira me assustava. Como se eu fosse capaz de realmente crer em Papai Noel se fosse ele a me contar sobre isso. No meio do filme, depois de já ter me encolhido diversas vezes para não olhar a tela da televisão, Justin quebrou o silêncio entre nós.
- Megan – sua voz saiu rouca, e devo dizer que a preferia assim. Apertei sua mão como sinal de que ele poderia continuar – Obrigado. Digo, por ter me escolhido mais cedo. É uma sensação boa. Ser escolhido por alguém. Principalmente se esse alguém for você.
                Ergui a cabeça para olhá-lo e vi que não desviara o olhar da televisão.
- Ok – disse apenas e tornei a me aconchegar em seu ombro.
- Você gosta de mim? – disparou, me surpreendendo com a pergunta. Nunca passou pela minha cabeça que ele se importava com isso. Quase que simultaneamente nos olhamos, seus olhos estavam brilhando e transmitindo o que eu chamaria de... paz.
- Sim. E gosto de estar com você. – respondi primeiro porque era a verdade, segundo porque sentia que era o que ele precisava ouvir.
                Justin sorriu e eu devolvi o sorriso. Depois me deu um beijo na testa e voltou sua atenção ao filme. Fiz o mesmo, apesar de estar cansada o suficiente para não conseguir me concentrar no que acontecia na tela. Senti minhas pálpebras pesarem, de repente fiquei leve e foi como se pudesse voar, logo perdi todos os sentidos.
                Abri os olhos devagar devido à luz matinal. O primeiro som que reconheci foi da respiração de Justin, acima da minha cabeça, estávamos exatamente do mesmo jeito que dormimos. Ele dormia em um sono profundo, estava quase roncando. Dei um beijo em seu nariz, levantei-me cuidadosamente para não acordá-lo e fui direto ao banheiro. Tomei um banho demorado e vesti-me com uma camiseta bem maior que eu e um short de malha curto. Fui para cozinha e coloquei água para ferver. Quando estava lavando a louça, senti alguém segurar minha cintura e em seguida me abraçar por trás, beijando meu pescoço. Senti meu corpo todo se arrepiar e desejei que ele não notasse, apesar de ser quase impossível levando em conta que estava colado em mim. Justin soltou um risinho. Virei o pescoço e beijei sua bochecha.
- O que foi, voltamos ao jardim de infância? – disse em tom de deboche. Revirei os olhos e selei nossos lábios demoradamente. – Legal. Progredimos. Agora estamos no Ensino Fundamental. – respirei fundo e deixei um copo de lado. Virei-me de frente para ele e com as mãos cheias de sabão segurei seu pescoço, sem pestanejar beijei-o. Mas foi um beijo de verdade. Deixei transparecer o quanto queria ter feito isso antes. Às vezes não tem problema deixar o orgulho de lado. Às vezes dar um beijo com sabor de “quero ser amada” não faz mal. Justin beijava bem. Na verdade, devia ter dito isso antes. Diria que ele era melhor nisso do que qualquer outro homem que já tenha beijado, e isso que foram muitos. O segundo lugar vai para... Bryan. Mas todos querem sempre o primeiro lugar, seja relacionado a beijo ou a melhor e mais nova tecnologia. Com Justin certamente não era diferente. Todas as meninas o desejavam. Ninguém dava créditos ao segundo e terceiro lugares. Gostaria que dessem, pois Bryan merecia, assim como o futuro homem do terceiro lugar, que eu ainda não descobrira. De repente, lembrei-me da noite anterior e do olhar decepcionado que ganhara de Bryan. Parei o beijo. Situei minhas mãos e percebi que estavam na bunda de Justin, logo as recolhi. Ele umedeceu os lábios e disse:
- Ensino Médio. – deu um sorriso de canto.
- Posso saber quando seríamos adultos?
- Quando você estiver na cama, nu, me olhando com cara de safada, com uma música não necessariamente lenta tocando.
                Soltei uma risada alta. Justin ficou sério.
- O que foi? Sexo agora é só para desconhecidos? Se eu for procurar outra pra satisfazer minhas vontades você não reclama. – senti meu sangue ferver no instante que ele terminou. Agora também estava séria.
- Eu não quero brigar. E pelo amor de Deus, pense muito antes de dizer algo a mim. Você me machuca com isso e nem sabe o quanto. Meça as palavras. – apesar de nervosa, automaticamente deixei meu lado emotivo falar. Um dos meus piores defeitos. Baixei a cabeça.
- Deixa de ser dramática. Se for porque disse que vou procurar outra, é exatamente o que vou fazer se continuar com essa sua postura de idiota. – cuspiu as palavras.
- Eu não sou só sexo, Justin! – disse alterando a voz - Já basta ter que transar todos os dias para conseguir dinheiro, ser humilhada e julgada pelas pessoas que acham que faço isso por prazer. Mas eu não tenho opção! Cansei disso. E se quiser ir procurar outra, tudo bem. Eu vou entender. Não eu não sinto ciúme de você. Não sou sua dona e não é como se estivéssemos namorando. – disse tudo muito rápido, gostaria de piscar e voltar ao momento em que ele ainda dormia e eu acabara de acordar.
- Então não foi nada pra você? – disse em seu tom de voz normal - O elevador, o brigadeiro – é, eu andei treinando -, a ida à minha casa, quando eu vim aqui depois de nos encontrarmos no mercado, nossa primeira vez, ontem... O que aconteceu com aquele “sim” quando te perguntei se gostava de mim? Pois é, eu já estava sóbrio. Lembro-me de tudo depois do banho. Para de fingir que não sente nada, Megan. – terminou de dizer e tinha mágoa no olhar. Senti-me culpada, apesar de saber que não era.
- Se quiser saber a verdade, Justin, vou te dizer. Eu sinto, e eu realmente gosto de você. Mas eu me sinto assustada, pois nunca senti isso antes e ambos sabemos que eu não posso... – ele me interrompeu.
- Eu não me importo se você se prostitui. Na verdade, ontem eu fui na boate pra te encontrar e te dizer que não precisa mais fazer isso.
- E você acha que vou fazer o que? Viver do seu dinheiro? – ri sarcasticamente – Não rola.
- Não necessariamente. Nós transamos e eu te pago por isso. Prostituição pra uma pessoa só. Será que não dá pra deixar o orgulho de lado pelo menos dessa vez? Assim além de ficarmos juntos, você não é obrigada a ir àquela boate toda noite pra ganhar uma mixaria.
- Podemos conversar sobre isso depois? – disse e suspirei. Justin assentiu.
- E desculpe. Eu sei que você é mais que um corpo bonito.
                Sorri. O que mais poderia fazer? Eu acreditava nele.
- Justin – ele me olhou como se esperasse que eu continuasse. Por um momento pensei em ficar calada, talvez não tocar no assunto fosse o melhor a se fazer. Mas minha curiosidade era maior e soltei antes mesmo que percebesse: - Ontem, antes do banho, você estava muito chapado. E mencionou algo sobre uma pessoa. Disse que sentia falta dela. – pigarreei – Quem é Trisha?
                Seu rosto se iluminou. Parecia não acreditar que falara dela. Abriu a boca mas não emitiu som algum e então tornou a fechá-la. Nunca achei que o veria tão sem jeito.
- Eu... Trisha era minha namorada. Quando vim pra cá, há três anos atrás, eu a trouxe também. Mas ela nunca mais voltou. Os pais dela me culpam até hoje. Acho que faria o mesmo. É complicado. Ainda não estou preparado para falar sobre isso com você, então...
- Tudo bem, Justin. Quando você preferir – sorri e ele retribuiu. – Eu posso chamar um táxi e te deixar no seu hotel, vou precisar sair.
- Vai à casa do Bryan, acertei?
                Minha garganta travou e meus olhos devem ter se arregalado. Tudo que pude fazer foi ficar intacta. Podia jurar que até minha respiração parou. Justin riu.
- Eu não ligo. Não tem problema você ir. Ele deve estar chateado por ontem e se fosse o contrário, eu gostaria que você fosse atrás de mim. Só não pode abusar, ok? Deixe os beijos comigo.
                Ri, sentindo-me despetrificada.
                A cada passo estava mais perto da casa de Bryan e a ideia de ainda não saber exatamente o que lhe falaria estava me desesperando. Parecia que meus pés pesavam dez vezes mais que o normal. Respirei fundo e bati na porta. Depois outra vez. E mais uma. Ia levantar a mão para fazer novamente mas ela foi aberta. E o que vi na minha frente definitivamente não era o que eu esperava muito menos o que eu queria. Jenny, a garota da sorveteria, estava lá, com os cabelos negros caindo sobre os ombros e me olhando como se quisesse dizer “ótima hora para aparecer e estragar tudo”. Desejei que ela percebesse que eu não estava feliz em vê-la tanto quanto ela não estava em me ver. Bryan chegou por trás dela, segurando em sua cintura com as duas mãos, e com uma expressão de surpresa ao pousar os olhos em mim. Tentei dizer algo, mas minha voz parecia ser a única coisa não funcionando no meu corpo. E naquele momento, ela parecia ser mais importante que o bater de meu coração. Juntei todas as minhas forças.
- Posso... – engoli em seco. Não conseguia nem completar uma frase, quem dirá me desculpar com Bryan. Ele e Jenny se entreolharam e depois de um meneio de cabeça dela, saiu e assim fez com que o ar ficasse de alguma forma mais leve.
                Bryan deu dois passos e fechou a porta atrás de si. Me olhava sério como nunca fizera antes.
- Olha, eu... – me interrompeu. Apesar disso, eu sabia que conseguiria continuar. Isso me levou a uma conclusão: o motivo da minha falta de voz era Jenny. Ou talvez apenas a presença inesperada dela.
- Não, Megan. Não se desculpe. Poupe-se de fazer isso. Você teve escolha, e estava em sã consciência, então não pode ter se arrependido de verdade.
- Eu não me arrependi. A questão é que não precisa ser assim. Vai deixar de falar comigo por ter ido ajudar Justin, quando ele não tinha ninguém, e você sua irmã? Isso tão idiota, será que não percebe?
                Ele baixou a cabeça e coçou a testa.
- Deixei bem claro que era pra me esquecer se fosse com ele. Não vou voltar atrás com isso.
                Dei-me por vencida.
- Se é assim que você quer, tudo bem. Sabe onde me encontrar.
                Bryan olhou em meus olhos uma última vez, e não consegui decifrar o que eles tentavam transmitir. Mas de uma coisa tinha certeza: aquele brilho não era normal. Estavam marejados. Virei-me e apertei os passos em direção à saída do condomínio. Senti seu olhar pesar em minha costa. Talvez quisesse que eu insistisse. Que implorasse para que ele não me deixasse. E eu faria isso. Faria mesmo. E por que não fiz? É uma pergunta para a qual não tenho resposta e talvez nunca tenha.

Continua...

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

She Will Be Loved - Esquece que eu existo.

- Ei, acorde! – ouvi uma voz desconhecida e grossa gritar, mas apesar do tom alterado, o som parecia estar longe. Tentei abrir os olhos, mas ao mesmo tempo uma força que não sabia de onde vinha tentava me manter inconsciente – Mas que diabos...? Você já deveria ter voltado ao normal, só pode estar de brincadeira! Hector, tem certeza de que ela está viva?
- S-Sim! Eu apenas a dei o remédio que o senhor mesmo disse. Veja, ela continua respirando – uma voz mais suave disse e o temor estava estampado em seu tom.
- Acorda, Megan! O que há de errado?
                O imaginar que talvez não conseguiria voltar ao normal estava me desesperando. Mas então tentei abrir os olhos mais uma vez, e no começo tudo estava embaçado, mas logo as coisas foram entrando em foco. Via o teto branco e Justin me olhando sem nenhuma expressão. As duas outras coisas que reparei foram: estava sem camisa e com o cabelo bagunçado.
- Você está bem? – sua voz estava mais rouca que o de costume.
- Sim. Só tive um pesadelo.       
                Ele assentiu e saiu dali. Então reparei que estava deitada em sua cama. Respirei fundo e minha alma pareceu descarregar-se. Minha mente estava tranquila. Por incrível que pareça estava tranquila. Dei atenção ao meu coração e ele não dizia nada. Por incrível que pareça não dizia nada. Eu me sentia bem. Justin tornou a entrar no quarto segurando uma bandeja. Olhei para o que tinha ali e para ele. Não pude conter um sorriso de incredulidade. Depois de se aproximar e se sentar ao meu lado com a bandeja cheia de coisas para café da tarde entre nós, ficamos mantendo apenas nossos olhos ligados por um momento que me a meu ver, foi curto. Então Justin pigarreou, e pareceu querer me dizer algo mas não saber como.
- Eu tenho uma notícia não muito boa – sua voz vacilou.
- O que aconteceu? – perguntei afobada.
- A Rua das Esmeraldas não existe.
- E daí? – perguntei sem saber porque ao certo aquilo era ruim.
- E daí... Que é a rua que seu “pai” nos deixou como endereço. Procurei na internet e nem sinal dessa rua em Los Angeles.
                Esquecera-me completamente do bilhete.
- Ele pode ter errado, eu queria muito ir lá hoje, mas não me importo de esperar outra carta com a correção do endereço – disse convicta.
- Não acha estranho ele ter errado o nome da rua que mora a tanto tempo?
- Justin, o que você está querendo dizer com isso? Quer me desanimar ou me ajudar? – perguntei, alterando um pouco a voz sem me dar conta disso.
- Não é isso, Megan. Mas isso está muito estranho e eu não quero que você se decepcione se, por um acaso, não for o seu pai. Só quero te manter com os pés no chão. Temos que pensar em todas as possibilidades, e estou pensando numa das melhores quando digo que pode não ser ele. E se quer saber a pior delas, lá vai. Já passou pela sua cabeça que pode não ser ele e sim um bandido ou sequestrador ou sei lá o que só usando a história do seu pai pra chegar até você?
                A esse ponto meus olhos já estavam cheios de lágrimas e meu Deus, como ele podia pensar assim? Respirei fundo fazendo força para engolir o choro.
- É a letra dele, Justin. Você não entende, você tem seus pais vivos e pode chamá-los a hora que quiser. É fácil pra você. Já eu – dei uma risada abafada e sínica – Eu, Justin, eu não tenho ninguém.
- Mesmo depois de tudo que eu te disse mais cedo você continua achando que eu tenho uma vida perfeita, não é? – ele disse parecendo chateado – Mas eu não sei mais o que posso fazer pra te mostrar que não é nada disso, então continue pensando assim e espero que um dia você perceba a realidade. E sério, não tem problema se acha que eu não sou ninguém.
                Ele levantou-se abruptamente derrubando dois copos de suco de laranja da bandeja e molhando um pouco os lençóis. Me senti mal. Na verdade eu tinha consciência de que a vida dele não era as mil maravilhas que eu pensava no começo, mas ele me irritou falando sobre meu pai e acabei falando sem pensar. Coloquei a bandeja de lado e me livrei dos lençóis molhados. Sai pelo apartamento à procura de Justin e encontrei-o na cozinha. Estava de costas para mim, com as mãos apoiadas na pia e a cabeça baixa. Aproximei-me e toquei sua mão. Sua pele estava gélida. Ele não se moveu.
- Justin... – disse com a voz mais mansa que poderia fazer.
                Ele olhou para mim e seu maxilar estava travado. Seu rosto expressava ódio e confesso que dava um pouco de medo, mas ficava sexy. Justin não era do tipo não agressivo, ou calmo, se preferir.
- Eu sei que sua vida também não é fácil. Eu não quis dizer aquilo. Só estava irritada. Não quero brigar com você, vamos esquecer isso, tudo bem?
                Justin não disse nada. Sabia o que queria fazer. Então me inclinei um pouco e o abracei. Ele retribuiu depois de alguns segundos. Parecia que tudo girava ao nosso redor. Era como se a Terra tivesse parado de dar atenção à órbita do Sol e começasse a fazer seu movimento em torno do nosso abraço. Minha pele contra a dele. Seu cheiro invadindo meu nariz. Suas mãos frias tocando meus ombros. Justin afrouxou o abraço e desvencilhei-me dele. Agora seu rosto não demonstrava nenhuma expressão.
- Tenho que te levar pra casa. Vou resolver algumas coisas no banco.
                Assenti e depois de me deixar em casa, Justin saiu cantando pneu, o que fez alguns vizinhos abrirem as janelas para espiar a rua. Passei o resto da tarde tentando não pensar na carta, o que de certa forma era pensar nela. Mas tive sucesso. Em compensação, fiquei imaginando onde Justin estaria agora. Na verdade não acreditava que ele iria “resolver algumas coisas no banco”. Devia ter se cansado de mim e ido procurar outra menina pra se divertir. Esse pensamento fazia meu estômago revirar. Então tentei também não pensar nisso. Sem sucesso. Teria que ocupar minha cabeça com alguma coisa mas não tinha ideia do que seria. Subitamente me ocorreu, como se eu tivesse me esquecido, que já era 19 horas e eu ainda não saíra da vida de prostituta. Procurei a vontade de me arrumar enquanto o pensamento de que teria de enfrentar transar com um ou mais desconhecidos outra noite me atormentava. Logo, me senti desanimada e com uma preguiça que nunca tivera antes de sair de casa. Apesar disso, tomei banho e me arrumei rapidamente e sai pelas ruas em direção à boate, reparando em todas as pessoas que passavam por mim. Com minha roupa não dava para perceber o que eu estava indo fazer, então não era o centro das atenções como acontecia muitas vezes.
                A música era Hangover – Taio Cruz. A fumaça se fazia pouco presente. A boate estava lotada como nunca. Muitas pessoas já estavam bêbadas e podia contar nos dedos quantas estavam paradas. Além do cara do bar, três mulheres e dois homens. Foi a primeira vez desde que comecei a frequentar aquele lugar que decidi não ser só mais uma prostituta, mas me divertir. Me divertir de verdade em uma balada sem pensar nas contas e na comida que logo faltaria na minha geladeira. Me divertir como nunca havia feito antes.
                Depois de dançar cerca de quinze músicas e já estar com a visão um pouco embaçada devido a quatro copos de vodka, senti um puxão no meu braço e fui arrastada para fora do aglomerado de pessoas que estavam amontoadas enquanto dançavam. Olhei para trás e vi um dos homens que antes estavam parados. Ele tinha um pouco de barba e aparentava ter 30 anos. Estava vestido formal demais para uma boate e só agora reparara nisso.
- Desculpe, em que posso ajuda-lo? – perguntei cautelosa, ele me observava como se estivesse me avaliando.
- Ah... Claro, claro – sorriu – Me chamo Mark. E você é...?
- Megan. Megan Martinez. – disse apertando sua mão em forma de cumprimento.
- Eu sou de uma agência de modelos. Você... hum...está atendendo a algum contrato no momento?
- Como modelo? – perguntei estranhando – Ah não, na verdade eu...
- Você não é modelo? – Mark sorriu. – Sinceramente não sei como ainda não te descobriram aqui. Nunca nem tentou trabalhar nesse ramo?
- Nunca ninguém me disse antes que eu tinha beleza suficiente para isso então...
- É um desperdício. – disse me interrompendo pela segunda vez - Está trabalhando em que agora?
- Estou em... Um projeto pessoal, isso me toma um pouco de tempo – menti, apenas porque não queria ter o desgosto de dizer que era prostituta naquela boate.
- Bom... Fica com você o meu cartão e quando estiver livre, pense na minha proposta. Tenho certeza de que nasceu para as passarelas. A propósito, você é linda. Vou esperar pela sua ligação.
                E então depois de me entregar um cartão que tirou do bolso, saiu acompanhado pelo outro homem vestido tão formal quanto ele. Apertei o cartão entre os dedos e o guardei em minha pequena bolsa de mão. Queria passar horas e horas pensando no que havia acontecido, mas não tinha tempo para parar de me divertir. Quando ia voltar à pista de dança, minha atenção, assim como a de muitas pessoas ainda sóbrias ali, foi chamada por uma roda que se formava ao redor de duas pessoas das quais emitiam muitos gritos. Fui me aproximando e me espremendo entre muita gente. De alguma forma, parecia conhecer aquelas vozes. Levava cotoveladas e empurrões. Não me importava. Até que cheguei ao centro da roda e não quis acreditar no que via. Bryan, sóbrio, com a camiseta azul marinho rasgada e os olhos exalando fúria, partia para cima de Justin, completamente bêbado, que aparentava não saber o motivo por estar metido em uma briga e com o nariz sangrando. Sabia que se Justin estivesse são não estaria naquela situação, Bryan é que estaria muito pior. Vi um pouco além e Emily segurava forte o braço de seu irmão com a ajuda de Chaz, porém os dois não eram suficientes para segurá-lo. Justin foi nocauteado com um soco na bochecha esquerda e caiu sentado enquanto xingava. Não poderia ficar parada, não poderia ver Bryan machucando-o mais. Quando ele ameaçou dar outro soco em Justin eu entrei no meio e acabei sendo acertada por sua mão, Bryan me viu e se encolheu devagar, agora com o olhar curioso e surpreso.
- Desculpe, mas você tem a Emily e o Justin não tem ninguém.
                Virei-me para trás e ajudei Justin a se levantar. Logo quando o fez, o fedor de álcool da sua boca era inconfundível. Ele riu estranho. Ia começar a andar com ele quando Bryan me deteu.
- Megan, se você for com ele, esquece que eu existo – seu tom era sério.

                Olhei para Justin e depois voltei meu olhar para ele, tentando dizer “desculpe” sem emitir nenhum som. Bryan sacudiu a cabeça em um sinal de confirmação e sua expressão passou de séria para decepcionada. Me sentira mal, mas sabia que Justin precisava de mim mais do que ele naquele momento. Passei um braço dele pelo meu pescoço e segurei em sua cintura, andando devagar e com dificuldade, pois suas pernas estavam cambaleando. Fora da boate, ajudei-o a deitar-se no banco traseiro de um táxi e fui sentada com sua cabeça em meu colo. Imaginei que aquela posição estava desconfortável para ele mas logo chegaríamos em casa. Passava os dedos pelos seus fios macios de cabelo enquanto Justin cantava uma música que nunca ouvira antes, me olhava nos olhos e sorria. Eu ri e acariciei sua bochecha esquerda. Estava roxa. O sangre no nariz estava seco. Ele era lindo. O nariz tinha uma forma espetacular, e cada centímetro de seu rosto parecia ter sido feito pelo melhor arquiteto existente, atingindo a perfeição. Naquele momento eu tive uma certeza: eu gostava dele. Gostava do jeito dele e da companhia dele, mesmo bêbado. Lembrei-me de Bryan e do seu olhar decepcionado e pedi mentalmente que ele me perdoasse por isso. Perguntava-me se fizera a escolha certa.
Continua...

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

She Will Be Loved - Eu tenho claustrofobia

                Justin entrou no mesmo alguns segundos depois.
- Vou passar no hotel que estou hospedado para trocar de roupa, você se importa? – ele perguntou me olhando de canto, apenas fiz sinal negativo com a cabeça, minha mente estava atordoada demais para responder e ele pareceu entender que eu não queria conversa.
                A ideia de que provavelmente encontraria meu pai depois de nove anos me parecia extremamente fascinante e improvável ao mesmo tempo. Fiquei pensando em como ele escapara do acidente, o corpo dele estava bem deformado e me ocorreu a ideia de que afinal poderia não ser ele sendo enterrado. Eu queria acreditar nisso. Mas a polícia não se confundiria a tal ponto... Ou será possível? Tinham tantos corpos para examinar, estavam atordoados, provavelmente com pressa de ir pra casa e descansar, a fim de esquecer aquilo... Decididamente poderia ter havido algum engano. Mas por que ele me procurara só agora? Poderia me ver abraçando-o para sempre, sentindo o conforto de sua proteção paternal, me dizendo que eu não precisaria mais me prostituir e que tudo ficaria bem. Mas ao mesmo tempo queria gritar com ele e perguntar por que não aparecera antes, dizer que vivi inutilmente um inferno na casa dos meus tios enquanto ele estava apenas se escondendo. Talvez estivesse sendo egoísta mas estava demasiada confusa para ver isso. A imagem de meus pais se despedindo de mim no aeroporto me veio à mente sem pedir permissão. Eu insistira para ir junto mas minha mãe não deixou, e se ela pudesse falar comigo hoje tenho certeza que diria “não me arrependo do que fiz”. Talvez se eu tivesse insistido um pouco mais ela cederia e eu teria estado com as pessoas mais importantes pra mim nos últimos minutos das nossas vidas, e com certeza não me arrependeria por estar morta. “Se cuide, querida. Vemos você em breve”, foi a última frase que ouvi de meu pai. “Nós te amamos!” minha mãe completou, quando me soltou de um longo abraço. Então, cerca de uma hora depois, quando estava assistindo televisão com minha vizinha – que cuidaria de mim enquanto meus pais estivessem fora -, aparece um boletim urgente de notícias, e desde que ouvi e processei as palavras “Avião que ia em direção a Brasil cai no mar, próximo à ilha e não há sinal de sobreviventes” minha vida nunca mais foi a mesma. Sempre vemos coisas assim na tv mas nunca pensamos que irá acontecer conosco, mas até que um dia o destino te prega uma peça dessas. Minha mãe sempre dizia que quando eu fosse adolescente ela iria me querer conhecer meus namorados e que é sempre bom andar com uma lata de spray de pimenta na bolsa, caso ele mereça um pouco de ardência nos olhos. Contudo, tive apenas um namorado na época entre meus 15 e 17 anos. Depois descobri que ele me traia e terminamos. Sempre preferi ficar com os meninos, relacionamentos sérios que davam arrepios e acho que isso ajudou no meu lance de depois dos 18 sair da casa dos meus tios e virar prostituta. Minha vida não era o que uma pessoa poderia considerar boa, embora precisasse admitir que a vida de outras pessoas eram muito piores que a minha. Meu pai era do tipo que sempre contava histórias antes de dormir e se algum menino chegasse perto de mim já ficava olhando de canto de olho, minha mãe dizia que era ciúmes mas eu não entendia.
- Megan? Você está bem? – uma voz conhecida falou baixo, fazendo-me voltar à realidade.   
                Justin havia parado o carro no acostamento de uma avenida movimentada, alguns carros passavam e buzinavam. Sua mão direita estava embaixo da minha, apertando-a, enquanto a esquerda se encontrava alisando minha bochecha. Só então percebi que estava chorando feito uma criança. Justin olhava para mim com ar preocupado.
- Não – solucei entre o choro – Eu sinto falta deles – disse e disparei as lágrimas novamente.
                Era como se uma faca estivesse atravessando meu peito. Só quem não tem os pais vivos poderiam ter ideia da sensação. E nesses nove anos, fora o dia do enterro, eu não me lembro de ter chorado por isso mais do que cinco vezes. Sempre evitava tocar no assunto e quando o choro ameaçava sair eu fazia o máximo pra segurar, costumava dar certo, mas dessa vez eu mal me dei conta de que queria chorar.
                Justin não disse nada. Ao invés disso, me abraçou. Demorei para acreditar no que ele fizera e retribuir o abraço. Ele me apertava contra seu corpo como se quisesse ter feito isso faz tempo. Seu cheiro se apoderou das minhas narinas, não usava perfume, era apenas um cheiro bom, seu cheiro natural. Senti que o choro estava quase cessando e deixei as últimas lágrimas escorrerem quando apertei meus olhos com força. Uma de minhas mãos puxava Justin para mais perto de mim – se é que era possível - pelas costas e a outra estava passeando entre seus fios macios de cabelo. Meus soluços ainda eram presentes e logo que percebi o que estava fazendo me senti subitamente idiota. Já estava melhor para soltar Justin mas permaneci o abraçando por mais dois minutos, apenas para sentir nossa pele uma contra a outra. O único som agora era de nossas respirações, a dele, calma, a minha, ofegante.
- Desculpe – murmurei, sem querer, em seu ouvido.
- Tudo bem. Vai ficar tudo bem. – disse com a voz abafada, me fazendo perceber que estava o apertando demais. Soltei-o devagar e quando já estava cada um em seu acento limpei as lágrimas com as costas das mãos. Justin me lançou um olhar diferente, não saberia dizer exatamente como, mas eu gostei. Ele sorriu fraco e eu fiz o mesmo, sem mostrar os dentes.
                Ninguém disse mais nada, então Justin ligou o carro e voltamos ao caminho até seu hotel. Sentia-me mais aliviada e sem vontade alguma de continuar pensando nos meus pais, sabia que aquilo só me faria mal. Abaixei o vidro todo e senti a brisa forte, porém nada fria, tocar meu rosto bruscamente. Percebi então que Justin entrava no estacionamento de um hotel de no mínimo 15 andares, tinha um jardim na frente e as sacadas de cada apartamento eram maiores que a sala da minha casa. Olhei para trás e não acreditei no que via.
- Está hospedado em um hotel de frente pra praia? – perguntei, sem querer, parecendo incrédula.
- Sim – ele disse como se fosse a coisa mais normal do mundo – Por quê?
- Nada – não deixaria que ele soubesse o quão impressionada sobre sua riqueza eu estava.
                Justin estacionou o carro e saiamos, ele veio até mim e passou um braço pelo meu pescoço, automaticamente o envolvi pela cintura também. Começamos a caminhar e ouvi um barulho que indicava que o carro havia sido fechado. Entramos no elevador e Justin apertou alguns botões, na hora em que o mesmo começou a subir senti Justin me apertar mais forte contra seu corpo de lado, a cada segundo que passava ele me segurava com mais força.
- Justin – disse numa voz baixa que pareceu mais um gemido.
- Desculpe – ele relaxou o braço, ainda em volta de meu pescoço – Eu tenho claustrofobia.
                Segurei uma risada alta mas acho que não deu muito certo pois... 
- Do que está rindo? – disse sério, sem olhar pra mim, em seguida umedeceu os lábios.
- Quem te viu quem te vê, Justin – disse risonha – Um homem do seu tamanho, de sei lá, 25 anos? Cheio de tatuagem, que aparenta ser chefe de uma gangue das mais fodas pelas atitudes, com medo de lugares pequenos? – ri novamente, dessa vez sem tentar evitar.
- Na verdade faz 23 anos que o chefão aqui nasceu – ele brincou, gargalhando e me olhando pelo canto do olho.
- Quatro anos de diferença, se eu tivesse dois a menos isso seria pedofilia.
- Não esqueça que não estou te obrigando a nada. E com certeza já transou com homens mais velhos, estou errado? – ele olhou pra mim.
                Meu estômago se revirou no mesmo instante que lembrei como era fazer sexo com eles. Nojento era a palavra perfeita para essas situações.
- Como eu imaginava... – Justin disse e sorriu, me odiei momentaneamente, eu e minha mania de demonstrar demais – E por favor, você é ainda é uma criança, com 19 anos devia estar brincando de boneca. – ele continuava a me olhar e senti meu rosto queimar quando sorriu pra mim.
- Falou o adulto que tem só 4 anos a mais – disse entredentes. Meu bom humor evaporara.
- Posso perguntar uma coisa? Ah, já estou perguntando. Alguma vez aconteceu de rolar sexo lésbico com você? – ele perguntou cautelosamente, como se eu pudesse levar como uma ofensa. Não consegui conter o riso, e meu humor mudara novamente. Justin me olhou tipo “Você é louca? Isso não tem graça”.
- Não, Justin – sorri, meus olhos grudados nos dele – Nunca cheguei ao ponto de passar tanta necessidade de dinheiro – ele assentiu.
- É porque eu adoraria ver isso com meus próprios olhos, em filmes é legal mas nada se compara à presenciar pessoalmente. Então se qualquer dia você for colar velcro, me chame – ri do quão idiota ele era, Justin riu também.
                O elevador parou, Justin tirou os braços do meu pescoço e saiu andando na frente, eu o acompanhei me esforçando para dar passos mais rápidos. Ele abriu uma porta e depois de eu entrar fechou-a. Estávamos na cozinha, não era tão grande, talvez um pouco maior que a minha, mas a sofisticação nem poderia ser comparada. Era tudo na cor prata, o que deu um charme ao local. Fui para o outro cômodo e me deparei com a sala de jantar. Uma mesa grande e de madeira preenchia a maior parte do espaço, atrás dela podia-se ver um tipo de balcão com um armário junto, onde em cima encontravam-se alguns porta-retratos e papéis. Acima deles havia um espelho grande. No canto esquerdo dali, um mini bar tinha quatro bancos e vários vinhos pendurados. Depois de uma bancada de mármore, tinha-se a sala. Dois sofás grandes e beges estavam postos, com uma mesinha de centro contendo algumas revistas e um prato com uma porção de frios e azeitonas. A televisão era LCD e estava “pregada na parede”, enquanto abaixo dela havia uma estante baixa. Caminhei até a outra porta e me vi dentro do quarto. A cama estava coberta por um edredom branco e ali havia vários travesseiros da mesma cor, dois quadros estavam enfeitando a parede da janela, um de cada lado. Ao lado da cama havia um balcão, onde em cima havia um notebook e na sua frente uma cadeira de escritório, na parede oposta outra televisão fora pregada. Ao lado da janela uma porta estava entreaberta, empurrando-a um pouco cheguei à varanda. Uma banheira de hidromassagem espumava ao canto direito, uma churrasqueira pequena estava do lado de uma mesa redonda com duas cadeiras, dois vasos de plantas enfeitavam o ambiente.
                Ouvi uma porta se fechar atrás de mim e virei-me me lembrando de Justin.
- Gostou? Queria ter ficado no Grand Palace’s Hotel mas eles estavam com todos os quartos lotados – ele fez cara de desaprovação.
- Isso aqui é o paraíso perto da minha casa – disse olhando ao redor, quando meus olhos pararam no violão preto em cima da cama – Você toca? – perguntei apontando pra ele.
- Só por diversão – ele respondeu dando de ombros. Assenti.
- Se importa de tocar pra mim? – perguntei antes que pudesse me dar conta.
- Bem... Faz tempo que não toco pra alguém e... Eu posso treinar antes e depois toco pra você – disse sem jeito.
- Por favor? – perguntei fazendo cara de pidona – Só uma música. E eu não comento com ninguém, juro – ele me olhou como se avaliasse se eu merecia ou não. Por fim cedeu.  
                Justin andou até o violão e sentou-se na cama, segurando-o como deveria. Sentei-me um pouco afastada esperando que ele começasse. Ouvi-o pigarrear. Parecia nervoso. Umedeceu os lábios e então começou.
- I need you boo I gotta see you boo And there's hearts all over the world tonight Said there's hearts all over the world tonight, I need you boo I gotta see you boo, And there's hearts all over the world tonight Said there's hearts all over the world tonigh, Hey lil' mama, ooh you're a stunner, Hot little figure, yes you a winner, and I'm so glad to be yours You're a class of your own and Ooh little cutie, when you talk to me I swear the whole world stops, You're my sweetheart and I'm so glad that you're mine You are one of a kind, and You mean to me what I mean to you And together baby there is nothing we won't d, 'Cause if I got you I don't need money I don't need cars, Girl you're my all.             
                Justin parou de tocar, então não sabia ao certo como começar a falar.
- Justin... Você... É maravilhoso! De verdade! – suspirei – Quer dizer, sua voz é incrível, alguém já te disse isso?
- Algumas vezes – ele sorriu olhando pro violão.
- Já pensou em seguir carreira de cantor? – ele riu ironicamente.
- Tá falando sério? – assenti e ele fez sinal negativo com a cabeça – O máximo que eu conseguiria seria cantar em alguns bares.
- Se pensar assim vai mesmo, mas se acreditar que pode ir além, você vai além. Tudo depende de  você.
- Tanto faz – disse olhando para mim e poderia jurar que havia um pouco de tristeza em seus olhos – Eu trabalho com meu pai cuidando de uma empresa de sabonetes e se isso me sustenta, estou bem assim.
- Isso é inacreditável . Do que adianta ter dinheiro continuando o trabalho do seu pai se não está feliz assim? Vai atrás do que você gosta, tem potencial pra ir muito longe, eu garanto.
- Eu cantava com meus amigos em Stratford. Eu pretendia continuar. Mas meu pai começou a implicar dizendo que isso não é uma carreira digna. Ele nunca aceitaria.
- Stratford? Mas de qualquer forma agora você já tem 23 anos e não precisa mais fazer o que seu pai quer que faça.
- Sim, fica no Canadá. Nasci e cresci lá, sai de casa pra viajar pelo mundo aos 15 anos. Meus pais até chamara a polícia mas era tarde demais, contei com a ajuda de amigos mais velhos pra sair do país. Volto regularmente para ver como estão as coisas mas não passo mais de três dias na casa dos meus pais. Meu pai é o tipo que só pensa em trabalhar e minha mãe só pensa em gastar e me julgar por qualquer coisa. É um inferno.
- Não sei o que é pior. Não ter os pais vivos ou ter os pais vivos assim – respirei fundo – Justin, o que acha de gravarmos um vídeo cantando alguma música e postarmos no Youtube?
- O que? Não! Pra que?
- Sei lá, às vezes alguém importante vê e... Pode pelo menos pensar nisso com carinho?
- Posso pensar.
                Sorri por ganhar sua teimosia.
- O que acha de fazermos brigadeiro?
- Birigadeiro? Que diabos é isso? – perguntou se levantou e indo até uma porta do guarda-roupas, abrindo-a e fuçando nas roupas. Ri com sua pronúncia.
- Bri-ga-de-i-ro – ele me olhou com cara de “não vou repetir” e voltou a atenção para as roupas – É um doce brasileiro. Na verdade o melhor doce brasileiro. A melhor coisa que eles inventaram. Já esteve no Brasil?
- É um país que sempre quis ir, acho interessante a cultura das mulheres serem gostosas e “sabarem” na época de “carnival”.
- Sabia que não é educado falar de outras mulheres quando você tem uma na sua cama? Ainda mais do jeito que eu estou? – disse e deitei-me de lado, apoiando a cabeça na mão e piscando quando ele se virou para me olhar. Fez cara de tédio e eu ri.
- Megan, você não conta. Mal saiu das fraldas, pirralha – ele riu baixo e logo parou quando sentiu o travesseiro que eu jogara bater contra sua costa. Justin virou-se lentamente com o olhar sério, porém eu sabia que estava se segurando para não rir – Vai se arrepender por ter feito isso.
                Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, sai correndo, quase escorregara no tapete da sala que não reparara que estava ali antes. Cheguei na cozinha e peguei uma frigideira que estava secando e coloquei-a na minha frente esperando que Justin chegasse logo atrás. Ele não veio. Passou-se um minuto.
- Justin? Justin?! – gritei não muito alto.
                Sem resposta. A preocupação começara a me invadir. Fui andando cautelosamente até o quarto e lá estava ele, caído perto da porta do guarda-roupa com a cabeça virada de lado. Meu coração acelerou. E se ele tivesse tido um ataque, derrame ou algo do tipo? Será que pensariam que eu era a culpada? Aproximei e me abaixei, vi seu peito levantar e descer e um alívio tomou conta de mim. Independente do que fosse, ele ainda estava vivo. Virei o rosto dele pra mim e dei batidinhas de leve, esperando que ele acordasse.
- Justin! Por favor! Não faça isso comigo! Acorda logo!
                Num segundo que me pareceu mais rápido que o normal, estava sendo empurrada para o lado e Justin segurava meus pulsos, prendendo-me contra o chão. Vagabundo. Desgraçado. Filho da puta. Todos os palavrões possíveis se passaram pela minha cabeça aquela hora, mas estava com demasiada raiva para dizê-los. Justin sorria o tempo todo e isso me irritava mais. Ele soltou uma de minhas mãos e levou a sua para debaixo do meu braço, me fazendo contorcer-me em cócegas. Eu implorava para que ele parasse como se fosse me ouvir. Parecia estar se divertindo com minha situação. Justin começou a mexer com os dois lados e me imaginei como uma cobra rastejando no chão para tentar se esquivar do gavião. Juntei todas as minhas forças e levei uma de minhas mãos para seu pescoço e puxei-o bruscamente para mais perto. Levantei um pouco a cabeça e colei nossos lábios. Eu devia ter pensado que um beijo era a maneira perfeita de pará-lo, pois era mesmo. No mesmo instante ele parou as mãos na minha cintura, apertando-a um pouco. Aprofundei o beijo e sem esperar invadi sua boca com minha língua. Justin sorriu entre o beijo e mordi seu lábio inferior. Parei o beijo e distribui selinhos curtos pela sua boca rosada.
- Vai fazer o doce – disse ainda com os olhos fechados, se jogando ao meu lado.

                Justin estava sentado de lado com as pernas abertas, uma cima do sofá e a outra caída, com uma lata de cerveja na mão e olhou para mim assim que entrei em seu campo de visão.
- Acho melhor parar de beber isso, vai fazer o brigadeiro parecer ruim.
                Caminhei até ele e me sentei no meio das suas pernas, entregando-lhe uma das colheres que estava no prato com o brigadeiro. Justin pegou um pouco do doce enquanto eu já enchia minha colher. Depois de provar, ficou olhando pra mim de um jeito estranho e engraçado.
- Esse. É. O. Melhor. Doce. Do. Mundo. – disse pausadamente como se estivesse em transe.
- Eu te disse! – falei num tom pouco elevado.
                Justin e eu enchemos a colher até acabar. Deixei o prato na pia e voltei a sentar no mesmo lugar. Deitei minha cabeça em seu ombro e prestei atenção no que passava na tv. Jogo de basquete. Justin me deu um beijo na bochecha demorado e em seguida cheirou meu pescoço, fazendo minha espinha arrepiar-se. Ele percebeu pois sorriu com o efeito.
- Você é a primeira pessoa que me ouve tocar depois de três anos – disse enquanto alisava fios do meu cabelo.
- Por que parou? – perguntei com a voz rouca.
- Vi que não me levaria a lugar algum. Só não consigo me desfazer do violão. Foi o primeiro que eu tive.
- Justin – levantei a cabeça e olhei em seus olhos, estavam da mesma cor de mel de sempre – Eu acredito em você. Acredito que tenha capacidade. Se algum dia achar que não, me chame e eu falo de novo e de novo e de novo se necessário. Você só precisa acreditar em você mesmo.
- Obrigado – ele sorriu mostrando todos os dentes.
- Seu sorriso é lindo, alguém já te disse? – falei olhando para sua boca.
                Justin sorriu mais que antes, mesmo que eu não acreditasse ser possível.
- O seu também é. Aliás, você é linda. – senti minhas bochechas corarem. Justin beijou-as novamente e riu fraco.

                Encostei novamente a cabeça em seu ombro e respirei fundo. Era bom ficar assim. Era bom estar com ele. 

Continua...
Espero que gostem, beijo. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

She Will Be Loved - Sexo e um bilhete misterioso

                A casa era escura e os móveis, velhos. Podia ver claramente que os cupins andaram roendo uma escrivaninha e uma mesa, o pó subia sempre que mexia em algo e estava tudo bagunçado como se alguém estivera ali procurando algo. Dava facilmente para ser usada em um filme de terror. Comecei a subir as escadas e ouvi a madeira frouxa ranger sob meus pés. Abri cuidadosamente a primeira porta que vi. Era um banheiro, o espelho estava quebrado e a pia coberta de, acreditava eu, algum fungo. Mas isso não era o pior. A claridade entrava por uma janela pequena e com isso pude ver o box coberto de um líquido vermelho. Sangue. Olhei para meus pés e algumas minhocas deslizavam sobre o chão perto deles. Abafei um grito e sai dali, batendo a porta com toda força que pude. No mesmo instante ouvi o baque de algo caindo no chão em algum cômodo do fim do corredor. Andei até a última porta e a abri cautelosamente. Era um quarto. A cama estava coberta de sangue e ao seu lado, caído, havia um corpo. Corri até ele e me abaixei, mas logo me arrependi. Era um menino, diria que no máximo de 8 anos. Tinha cortes profundos por todo corpo e deles ainda saia sangue. Coloquei a mão em seu coração e ele já não batia mais, o pobre garoto perdera muito sangue. A porta se fechou de repente e quis pensar que fosse o vento, mas não ventava ali. Minha cabeça estava a mil e imaginei que estava vendo e ouvindo coisas. Meu coração mais acelerado do que eu jamais pensei ser capaz. Tentei gritar mas minha voz não saiu. Ouvi passos se aproximando e o desespero começou a ser cada vez maior. Só então senti que havia alguém atrás de mim. Prendi a respiração e me virei, a claridade não foi suficiente para ver quem era, mas era para que eu visse a serra de prata reluzindo a pouca luz que havia ali.
- Megan! Megan! Acorda! – senti alguém segurando meu braço com força e me sacudindo.
Sentei-me rapidamente na cama com a respiração ofegante, olhei no relógio ao lado e ele marcava 20 horas. Ao meu lado Bryan me lançava um olhar de “até que enfim”.
- Parece que alguém teve um pesadelo – sua voz estava mais grossa do que eu me lembrava.
- O que está fazendo aqui? E como entrou? Eu... – parei quando percebi que tinha sido indelicada e abaixei o olhar.
- Faz tempo que não nos vemos e eu decidi vir, parece que se eu não te procuro você não o faz – ele ergueu uma sobrancelha – A porta estava aberta.
- Cochilei quando eram 16 horas, já devia estar na boate e... – ele me interrompeu.
- Posso perguntar algo? – não me esperou responder – Por que é tão viciada em trabalho?
- Eu não sou assim. Mas diferente de você eu dependo disso pra pagar as contas e comprar comida.
- Qual é a sua, hein Megan? – seu tom soou triste – Eu duvido que alguma outra pessoa já tenha tentado se aproximar de você e quando isso acontece você quer afastar? Aliás, quantas amigas ou amigos você tem? Me fala o nome de alguém que se preocupe com você que não seja eu ou o pessoal que eu te apresentei.
- Eu só não quero que você confunda as coisas. Será que não percebe que não posso me comprometer?
- Ninguém nunca disse nada sobre ter algo sério.
                Suspirei e me levantei indo em direção à cozinha. Abri a geladeira e tirei dali uma jarra de suco natural de laranja, despejei o mesmo em um copo na pia e o sonho veio à minha mente. Era estranho pois nunca havia tido um pesadelo antes. Virei e Bryan estava a dois passos de mim.
- Vou embora. Se decidir ter amigos ou alguém pra conversar sabe onde me procurar. Eu gosto de você.
                O encarei nos olhos por um bom tempo. Eles estavam mais claros que o de costume. Bryan sorriu sem mostrar os dentes. Deu um passo e então pude sentir sua respiração, ele levou sua mão à minha bochecha direita e a acariciou. Seus olhos que estavam presos nos meus passaram a olhar meus lábios. Bryan deu um beijo rápido no canto de minha boca e depois beijou minha testa demoradamente. Podia imaginá-lo de olhos fechados nesse momento. Ele me olhou mais uma vez e saiu em direção à sala. Mas não podia deixar que fosse assim. Corri até a porta e Bryan estava quase saindo quando se virou para mim. Dei mais alguns passos rápidos e o abracei com toda força que pude. Depois de alguns segundos senti seus braços me envolvendo, ele me apertou contra seu corpo e me elevou no chão alguns centímetros. Seu perfume estava forte e tive certeza de que ele mudara, era melhor que o antigo. Bryan foi me soltando aos poucos e logo estávamos com os rostos colados novamente. Olhei seus lábios que estavam umedecidos e sem pensar duas vezes os selei. Não pareceu suficiente pra mim. Aprofundei o selinho, transformando-o em um beijo quente. Bryan riu baixo e não consegui conter o sorriso. Ele desceu a mão até minha bunda e ao mesmo tempo em que a apertava, a pressionava contra seu corpo. Dei um pequeno pulo e em um movimento rápido entrelacei minhas pernas em sua cintura, com as mãos em volta de seu pescoço e sem deixar o beijo se romper. Bryan no mesmo instante colocou as duas mãos nas minhas coxas para me segurar e foi andando até o quarto. Trombamos em algumas coisas e ele parecia estar tonto. Ele me colocou na cama com calma e ajoelhou-se deixando meu corpo entre suas pernas. Tirou a camiseta e pude admirar seu tórax que estava mais malhado que da última vez que o vira. Livrei-me de minha camisola sem esforço e joguei-a em algum canto do quarto, Bryan tirou a bermuda mas permaneceu de cueca. Provavelmente sabia o efeito que o volume dentro de uma causava em mim. Ele caiu de boca nos meus seios, os apertando e dando leves beijos, mas logo se irritou e puxou meu sutiã com tanta força que acabou o rasgando. Minhas mãos estavam passeando por seu cabelo um pouco molhado. Bryan desceu pra minha barriga e passou as unhas de leve na mesma fazendo minha espinha arrepiar. Estava demorando e não queria enrolação, não aquele dia. Inverti nossas posições enquanto beijava seu pescoço e passei por todo seu abdômen fazendo o mesmo. Quando chegou em sua cueca a apertei e senti seu pênis já ereto, sentei-me um pouco acima dele e fiz movimentos circulares. Suas mãos encontraram minhas coxas e ele as apertava enquanto se contorcia na cama. Cansei daquilo e desci, rasguei sua cueca e envolvi seu pênis em minha mão, o apertei e fiz movimento de vai e vem. Bryan soltou um gemido baixo e eu sorri. Rapidamente inverteu nossas posições e foi direto na direção de minha vagina, rasgando minha calcinha e sem demora levando os dedos até minha intimidade. Ele introduziu três dedos em mim e soltei um gemido alto, arranhando o colchão com força. Bryan deu um beijo na minha barriga e tirando os dedos de minha vagina, deitou-se por cima de mim e voltou a me beijar. Abri as pernas e entrelaçando-as entre ele, as cruzei em sua costa. Senti seu pênis pulsando roçar minha intimidade e meu útero pareceu querer gritar.
- Tem certeza de que quer isso? – ele perguntou em um sussurro.
- Eu quero você – respondi com a voz abafada. – Vai logo.
                Então sem esperar mais, Bryan nos uniu e soltei um gemido mais alto que o anterior. Levei minhas mãos à sua costa e a arranhei sem dó. Ele fez alguns movimentos mais fortes e logo depois caiu ao meu lado, com a respiração tão rápida quanto a minha. Não havíamos chegado ao nosso ápice, mas foi suficiente para nos satisfazermos. Me enrolei no lençol e deitei em seu peito. Passando meus dedos por sua barriga, pensei no que ele dissera mais cedo. Talvez Bryan tivesse razão. Bem no fundo eu sabia que tinha. É claro que queria amigos e alguém com quem pudesse contar. Só não conseguia confiar nas pessoas.
- Está com fome? – sua voz interrompeu meus pensamentos.
- Sim, e você? – respondi olhando pra ele que assentiu – Vou pedir uma pizza.
                Levantei-me da cama com o lençol enrolado no corpo e coloquei um roupão duas vezes maior que eu. Peguei o telefone na cozinha e pedi uma pizza de pepperoni. Voltei pro quarto e Bryan me deu um sorriso.
- Quer tomar banho?
- Achei que me convidaria pra passar a noite aqui hoje – ele disse fazendo bico.
- Eu chamaria, mas amanhã vou ao mercado cedo e você não vai querer acordar 8 horas da manhã.
- Por que você tem que ir?
- Porque preciso ir faz tempo e se deixar pra ir de tarde fica muito cheio.
- Vai depois de amanhã, poxa.
- Eu não posso, Bryan Teimoso Roberts.
- Como...? Ah, o RG - ele sorriu e fez um gesto para que fosse deitar ali.
[...]
                Andava entre as prateleiras pegando só o essencial, não podia exagerar. O mercado estava vazio em geral, as pessoas preferiam resolver as coisas no mercado a tarde. Abaixei-me pra pegar uma caixa de cereal e senti um empurrão no meu carrinho, me fazendo quase cair também. Joguei o cereal ali e quando olhei pra pessoa por trás do empurro fiquei surpresa. Justin.
- M-Megan? O que faz aqui?
- Acho que compras. E você? Ah, espera. Nem preciso perguntar. Empurrando o carrinho dos outros – disse rapidamente.
                Ele vestia uma camiseta de uma mulher com os seios à amostra e a mão do Mickey pegando neles. Não parecia ter cinto algum segurando sua bermuda jeans e seu Adidas era branco com o símbolo preto.
- Desculpe. Mas não devia se esconder atrás do carrinho...
- Idiota. Eu estava pegando... Ah, deixa pra lá – me virei de costa pra ele mas Justin deu alguns passos e pegou meu braço.
- Vai fazer o que hoje? – seus olhos cor de mel estavam fixos nos meus, o que me fez perder a linha de raciocínio.
- Nada. Provavelmente dormir a tarde e ir pra boate a noite.
- Posso almoçar com você? – estranhei sua proposta e provavelmente demonstrei isso – É que aprendi como se faz um macarrão com carne e queria... treinar.
- E vai me usar como cobaia para experimentar – sorri.
- Entenda como quiser – ele riu – Então...?
- Eu topo – respondi sem pensar. Se fosse para fazer amigos que começasse logo. Mesmo que Justin não fosse a melhor ideia de amigo que eu tivesse.
                Terminamos de pegar as coisas que precisaríamos, passamos no caixa, colocados tudo no Mustang de Justin e fomos pra casa. Lá ele me ajudou a descarregar tudo e comecei a separar as coisas que precisaria para fazer o macarrão. Justin disse que faria mas estava vendo que ia sobrar tudo pra mim.
- Ei, Megan! – ele chamou da sala – Vem aqui.
- O que você quer? Estou ocupada, diferente de você.
- É rápido.
                Fui até lá e Justin apontou pra mesinha de centro. Havia ali um papel pequeno embaixo de uma revista.
- Foi você quem deixou isso ai?
- Não... Mas quem poderia ter sido? – perguntei intrigada. Bryan é o único além de Justin que sabe onde é minha casa mas ele ligaria ou deixaria uma mensagem na caixa postal. 
- Não pergunte pra mim. Achei estranho.
                Peguei o papel, olhei pra Justin e sentei-me ao seu lado. Desdobrei e li devagar, não querendo acreditar.
“Olá, Megan. É o papai, eu sei que acha que estou morto, mas consegui escapar àquele acidente. Sua mãe infelizmente se foi. Fiquei naquela ilha por alguns anos, até um grupo de navegadores me encontrar. Eles me deixaram em Flórida, mas eu não tinha nada, dinheiro, roupa, comida... Família. Então fui jogar para conseguir dinheiro e acabei arrumando briga com uns caras. Agora estou em Los Angeles, mas tenho medo de ir até você e alguém me seguir e acabarem te machucando também. Por isso peço que me encontre, estou na Rua das Esmeraldas, no porão da casa número 50. Não demore, estou com saudade. Venha sozinha. Eu te amo”.
                Meu coração acelerou incontrolavelmente e minhas mãos começaram a tremer. As lágrimas tomaram conta de meu rosto e olhei para Justin que me olhava preocupado.
- É do meu pai. Mas não é possível, ele está morto! Não é possível! – gritei e ele tirou o bilhete de minha mão.
                Várias possibilidades passaram pela minha mente, queria que fosse verdade mas não podia ser.
- Como seus pais morreram mesmo? – Justin perguntou depois de deixar o bilhete de lado.
- Acidente de avião. Eu vi o corpo do meu pai no caixão, eu vi ele sendo enterrado.
- Então isso é uma pegadinha de alguém de mau gosto. Conhece alguém que poderia fazer isso?
- Tem meus tios, com quem eu morei depois que fiquei órfã. Mas eles não sabem meu endereço e posso afirmar que não perderiam tempo fazendo isso. Tem outra coisa, a caligrafia. É perfeitamente igual do meu pai. Lembro-me muito bem de quando ele me ajudava com as lições de casa e eu olhava a letra dele e pensava que quando crescesse gostaria que a minha fosse igual. Meu pai pode estar vivo, Justin – disse com a voz esperançosa.
- Não sei não, Megan. Isso está estranho. Você disse que viu ele ser enterrado.
- Eu sei, mas se tem a possibilidade de ele estar vivo, eu vou atrás e verei com meus próprios olhos se é verdade ou não.
- Não vou deixar você fazer isso, é perigoso. Pode ser uma armadilha, você não vê? – ele disse num tom bravo.
- Quero ver você me impedir.
                Peguei minha bolsa e levantei-me, Justin fez o mesmo rapidamente.
- Então eu vou com você.
- Ele pediu pra eu ir sozinha.
- Você nem sabe se o “ele” é seu pai.

                Revirei os olhos e sai dali, indo direto pro seu carro.
Continua... 

sábado, 25 de maio de 2013

She Will Be Loved - Na casa de Bryan

- Então, qual é seu lance com meu irmão? – Emily perguntou sorridente.
- Nós somos amigos.
                “Eu acho”, pensei.
- Amigos? Conta outra, eu vi o jeito que vocês se olham.
- Não pode negar que rola um clima – Amy, que tinha o cabelo até a cintura e loiro, comentou enquanto colocava arroz em uma tigela.
- Desde que você fique com o Bryan e deixe o Justin pra mim... – Sarah indagou.
- Eu só fiquei uma vez com o Justin.
                Ela abriu a boca para responder mas fechou-a no mesmo instante. Bryan entrara na cozinha.
- Posso saber sobre o que estão fofocando?
- Como se você não soubesse que mulheres não fofocam – Rachel arrebatou.
                Peguei algumas fatias de bisteca e coloquei lentamente na grelha que estava esquentando fazia bons minutos.
- Bryan, vocês têm certeza de que querem deixar o churrasco por nossa conta? – perguntei.
- Eu até cuidaria disso, mas não posso perder o jogo – ele soltou um riso baixo, quase inaudível – Sabe onde está o Justin?                
                Pude ver pelo canto do olho Sarah tirar sua atenção da cebola que cortava e olhar em nossa direção.
- Quando você chegou ele foi pro quarto, eu acho.
                Bryan meneou a cabeça e depois de pegar quatro latas de cerveja voltou pra sala.
- Você mora com seus pais? – perguntou Amy se dirigindo a mim.
- Não... Na verdade eles... – hesitei e ela pareceu entender.
- Ah! Me desculpe, eu não devia... – interrompi-a.
- Tudo bem. Estou acostumada com isso.
                Tudo que se podia ouvir era o cantarolar baixinho de Rachel e o som da carne fritando. Depois de alguns minutos pudemos ouvir os meninos comemorando pontos do jogo continuamente. Amy, Rachel e Sarah foram para sala servir os meninos com alguns petiscos que prepararam.
- Bryan me disse que vocês são adotados. Mas não disse se são gêmeos ou onde seus pais adotivos moram.
- Sim, somos gêmeos. Nossos pais moram aqui em LA, mas em um bairro um pouco longe. Saímos de casa quando fizemos 17 anos.
- E por que saíram? – perguntei mas logo me arrependi, sentindo-me intrometida. – Desculpe, isso não é da minha conta.
- Não tem problema. Nós brigávamos muito e todos concordamos que se ficássemos longe seria melhor. Eles nos visitam às vezes e em alguns domingos almoçamos lá.
- Entendo...
                Lembrei-me de um jantar na páscoa onde meus pais convidaram meus tios por parte de mãe, nossos únicos parentes vivos. No feriado pascal seguinte estava morando com meus tios, meus pais mortos, e minha vida sendo um inferno desde então.
- Bryan me contou sobre seus pais. Deve sentir muita falta deles.
- Sim. Aconteceu quando tinha só 10 anos. Eu era muito nova.
                De repente os meninos começaram a gritar e pude ouvir as meninas na sala os xingando, Bryan entrou gritando e pulando na cozinha, dizendo que os Lakers ganharam o primeiro sete do jogo.
[...]
                Era 17 horas da tarde e a essa altura já tínhamos assistido “Ted” e zoado bastante no karaokê, principalmente quando Amy cantou “The Climb” e não conseguiu absolutamente nenhum ponto. Podia imaginar Bryan lembrando-a disso por muitos anos. Sarah era a menos divertida da turma. Ela me encarava séria e eu me perguntava se o problema dela era só comigo ou se era assim normalmente. Justin não saíra do quarto nem para comer. Se não o tivesse visto poderia jurar que ele não estava ali.
- Que tal jogarmos baralho? – sugeriu Peter.
- É uma boa, mas quem perder tem que fazer alguma coisa. – disse Nolan.
- O que acham de meninas contra meninos? – propôs Bryan.
- Não! Não vale! Vocês tem três a mais que nós! – protestou Rachel.
- Agora quatro. – disse a voz de Justin chamando a atenção de todos. Ele usava uma bermuda xadrez e uma camiseta que cabia dois dele. Estava com a cara amassada.
- Pensei que não acordaria mais – disse Bryan.
- Eu estava cansado.
- Oi, Justin – disse Sarah com a voz doce até demais. Ele apenas deu um meio sorriso indiferente e lançou um olhar a mim.
- E então, o que vai ser? – perguntou se referindo ao jogo de baralho.
- As meninas estão com medo de perder – zombou Chris.
- Só não acho justo. – retrucou Rachel.
- Então é cada um por si – disse.
- Mas espera... – Justin começou – quem perder vai ter que tirar a roupa. – Os meninos falaram juntos algumas palavras de aprovação e eu não me senti bem pois não sabia jogar.
- Agora sim eu quero mesmo que as meninas percam – comentou Ryan.
                O jogo começou e já tinha a impressão de que perderia. As minhas cartas não estavam ajudando. Depois de cerca de 15 minutos, quando o jogo acabou, eu desejei não ter jogado.
- Vejamos... Megan, Amy, Rachel, e... – Nicholas fez uma cara de nojo – Chaz e Ryan.
                Os outros tinham empatado. Amy e Rachel queriam fazer um acordo para não ter que tirar a roupa e tudo que eu podia fazer era rir.
- Nós combinamos tirar a roupa, combinado é combinado.
                Depois de muita enrolação, Chaz e Ryan já tinham tirado e ficado só de cueca, mas não deu nem um minuto e eles se vestiram novamente a pedido dos meninos. Agora era nossa vez. Amy começou tirando a blusa e Emily estava rolando de rir dizendo o quão burra a amiga fora no jogo. Sarah não dizia nada, apenas observava Justin, que estava com os olhos vidrados em Amy, assim como os outros meninos. Rachel começou a tirar a blusa e percebi que querendo ou não teria que fazer o mesmo. Ia começar a me despir, mas parei quando ouvi a voz de Bryan.
- Para, Megan. Você não vai fazer isso.
- Ela é prostituta. Está acostumada. – intrometeu-se Nolan.
- Cala a boca! Eu não falei com você.
                Só então me dei conta de que as meninas não sabiam minha “profissão”, e agora provavelmente mudariam o comportamento comigo. Afinal, que respeito uma prostituta merece?
- É impressão minha ou alguém está com ciúmes? – a voz de Justin soou divertida e aquilo parece ter incomodado Bryan.
- Vocês passaram dos limites. Eu vou te levar pra casa – ele se dirigiu a mim.
- Bryan, é só um jogo. – disse num tom suave.
- Então vai me dizer que quer tirar a roupa? É tão fácil assim pra você? Pensei que tinha me dito que odiava fazer isso – ele cuspiu as palavras. Não consegui pensar em nada para dizer. Ficou alguns segundos me encarando e saiu em direção ao quarto.
                Olhei para Emily e ela sorriu em resposta. Foi um alívio pra mim. Amy e Rachel me olhavam com serenidade. Sarah me olhou da cabeça aos pés e fez uma expressão que interpretei como sendo de nojo. Não me importei.
- Acho que a festa acabou pra mim... Eu vou indo.
- Fica mais um pouco – pediu Amy.
- Infelizmente não dá. Eu ainda preciso tomar banho e... Ir pra boate.
- Você não precisa ir hoje. Eu quero falar com você, vamos dar uma volta pelo condomínio? – perguntou Emily.
- Tudo bem.      
                Acompanhei-a e saí da casa. O sol estava quase se pondo, o céu, alaranjado. Quase não havia nuvens. Um carro estacionou na casa da frente e dele saiu um casal jovem.
- Bryan também me contou sobre você ser prostituta.
- Então você já sabia? – surpreendi-me. Ela fez que sim com a cabeça. – E mesmo assim me tratou como se trabalhasse em outra coisa qualquer...
- Eu realmente não consigo olhar torto pra pessoas que fazem algo diferente como você. Eu sei que não gosta de fazer isso mas faz porque é a única maneira que encontrou de levar a vida. E mesmo se fizesse por gostar, não teria motivo para te tratar diferente. Eu não tenho nada a ver com isso. Então... além de ganhar Bryan como amigo, acho que acaba de ganhar quatro amigas. – olhei para ela e estava sorrindo – As meninas também não tem esse tipo de preconceito.
- Bom... Sobre Rachel e Amy posso concordar, mas Sarah me olhou torto depois que Nolan disse.
- Percebi que ela ficou com ciúmes do Justin com você desde o começo. Nem dá muita bola pra ela. Quando Justin esteve aqui há três anos foi a mesma coisa.
- Ela gosta dele?
- Tem um abismo por ele. – ela enfatizou a palavra “abismo” - Mas Justin nunca demonstrou interesse, isso porque ele fica com muitas.
                Olhei para meus pés distraída e me senti feliz por um instante.
- E sobre Bryan... – ela parou e se virou pra mim, pude perceber que seus olhos eram verde-esmeralda exatamente iguais os de Bryan. Eles se pareciam muito fisicamente. Seu cabelo loiro ganhara um tom mais escuro devido à luz do sol. - Ele não disse por mal. Você vai ver que o pior defeito dele é falar antes de pensar. Com certeza ficou com ciúmes.
- Não queria que ele sentisse isso. Nós estamos só ficando, ou nem isso. Eu não posso me envolver. Não tem nenhuma chance de termos algo mais sério.
- Não tem nenhuma chance por você não querer ou por ser garota de programa?
                Pensei rapidamente e não consegui chegar a uma conclusão.
- Eu o tenho como um amigo agora. Melhor amigo talvez. Ele apareceu na minha vida de um modo incrível. Não consigo imaginar outro homem que tentaria uma amizade comigo sabendo que sou prostituta. Mas eu não posso pensar em um relacionamento sério.
- O Bryan realmente é incrível. Não digo isso por ser irmã dele, mas ele consegue ver beleza nas pessoas que ninguém mais vê.
- Ele é maravilhoso.
                Ela sorriu e eu ri. Sem motivo. Apenas ri. Demos mais algumas voltas pelo condomínio em silêncio e depois pegamos o caminho de volta à casa de Bryan. Estavam todos na sala, exceto ele. Assistiam um episódio de “Two and a Half Men”.
- Bem... Eu vou embora. Espero ver vocês outra vez.
- Será sempre bem-vinda nos nosso roles – sorriu Ryan simpático.
- Emily, me passa um número de táxi? O que eu tenho está em um papel em casa.
- Eu te levo – disse Justin rápido.
- Eu posso fazer isso. – ouvi a voz de Bryan atrás de mim e me virei. Olhei para Justin.
- Obrigada por se oferecer – ele não respondeu, apenas travou o maxilar enquanto o olhar estava fixo na televisão. 
                Segui Bryan até o carro e entrei antes que ele abrisse a porta pra mim. Não tínhamos nem saído do condomínio e meu celular começou a tocar. Olhei na tela e li “Chamada de Dr. Smith”.
- Alô?
- Oi, Megan. Como vai?
- Estou bem e o senhor?
- Tudo em ordem. Preciso dos papéis que estão na sua casa para verificar se não está faltando alguma coisa, posso passar para pegá-los daqui uma hora?
- Sim.
- Certo. O dia da audiência está chegando, hein? Preparada?
- Eu sei que vai dar tudo certo. Preciso desligar, tchau.
                Guardei o celular na bolsa e evitando olhar para Bryan, virei a cabeça para janela.
- Você vai enfrentar uma audiência? Por que? – Droga, ele escutou.
- Não é nada grave.
- Então me diz por que é.
                Meu coração estava acelerado e minha cabeça a mil. Eu não poderia dizer a verdade, não ainda. Mas também não poderia mentir. Não consegui dizer nada e ele não insistiu, agradeci mentalmente.
- Desculpe pelo que eu disse lá em casa – sua voz saiu baixa.
- Já esqueci. – respondi apenas.
                Passamos quase meia hora no carro, era final de tarde e a essa hora muitas pessoas estavam voltando do trabalho ou buscando os filhos nas escolas. Bryan parou em frente de casa e inclinou-se, ia me dar um selinho mas eu virei o rosto e acabou sendo um beijo na bochecha.
- Nós nos vemos. – disse e sorri, em seguida sai do carro. 

Continua...

E ai, gurias? Haha. Gostaram do novo design do blog? Eu curti, achei mais simples e tal. Eu to pensando em mudar a url, o que vocês acham? To pensando também em mudar e não colocar nome no capítulo, escrever tipo "She Will Be Loved - Capítulo 6" por exemplo, o que acham? Gostaram do capítulo? Podem criticar, elogiar, dar sugestões. Peço que comentem porque é muito importante. É isso, até a próxima.