-
Ei, acorde! – ouvi uma voz desconhecida e grossa gritar, mas apesar do tom
alterado, o som parecia estar longe. Tentei abrir os olhos, mas ao mesmo tempo
uma força que não sabia de onde vinha tentava me manter inconsciente – Mas que
diabos...? Você já deveria ter voltado ao normal, só pode estar de brincadeira!
Hector, tem certeza de que ela está viva?
-
S-Sim! Eu apenas a dei o remédio que o senhor mesmo disse. Veja, ela continua
respirando – uma voz mais suave disse e o temor estava estampado em seu tom.
-
Acorda, Megan! O que há de errado?
O imaginar que talvez não conseguiria
voltar ao normal estava me desesperando. Mas então tentei abrir os olhos mais
uma vez, e no começo tudo estava embaçado, mas logo as coisas foram entrando em
foco. Via o teto branco e Justin me olhando sem nenhuma expressão. As duas
outras coisas que reparei foram: estava sem camisa e com o cabelo bagunçado.
-
Você está bem? – sua voz estava mais rouca que o de costume.
-
Sim. Só tive um pesadelo.
Ele assentiu e saiu dali. Então
reparei que estava deitada em sua cama. Respirei fundo e minha alma pareceu
descarregar-se. Minha mente estava tranquila. Por incrível que pareça estava
tranquila. Dei atenção ao meu coração e ele não dizia nada. Por incrível que
pareça não dizia nada. Eu me sentia bem. Justin tornou a entrar no quarto
segurando uma bandeja. Olhei para o que tinha ali e para ele. Não pude conter
um sorriso de incredulidade. Depois de se aproximar e se sentar ao meu lado com
a bandeja cheia de coisas para café da tarde entre nós, ficamos mantendo apenas
nossos olhos ligados por um momento que me a meu ver, foi curto. Então Justin
pigarreou, e pareceu querer me dizer algo mas não saber como.
-
Eu tenho uma notícia não muito boa – sua voz vacilou.
- O
que aconteceu? – perguntei afobada.
- A
Rua das Esmeraldas não existe.
- E
daí? – perguntei sem saber porque ao certo aquilo era ruim.
- E
daí... Que é a rua que seu “pai” nos deixou como endereço. Procurei na internet
e nem sinal dessa rua em Los Angeles.
Esquecera-me completamente do
bilhete.
- Ele
pode ter errado, eu queria muito ir lá hoje, mas não me importo de esperar
outra carta com a correção do endereço – disse convicta.
- Não
acha estranho ele ter errado o nome da rua que mora a tanto tempo?
-
Justin, o que você está querendo dizer com isso? Quer me desanimar ou me
ajudar? – perguntei, alterando um pouco a voz sem me dar conta disso.
-
Não é isso, Megan. Mas isso está muito estranho e eu não quero que você se
decepcione se, por um acaso, não for o seu pai. Só quero te manter com os pés
no chão. Temos que pensar em todas as possibilidades, e estou pensando numa das
melhores quando digo que pode não ser ele. E se quer saber a pior delas, lá
vai. Já passou pela sua cabeça que pode não ser ele e sim um bandido ou
sequestrador ou sei lá o que só usando a história do seu pai pra chegar até
você?
A esse ponto meus olhos já
estavam cheios de lágrimas e meu Deus, como ele podia pensar assim? Respirei
fundo fazendo força para engolir o choro.
-
É a letra dele, Justin. Você não entende, você tem seus pais vivos e pode
chamá-los a hora que quiser. É fácil pra você. Já eu – dei uma risada abafada e
sínica – Eu, Justin, eu não tenho ninguém.
-
Mesmo depois de tudo que eu te disse mais cedo você continua achando que eu
tenho uma vida perfeita, não é? – ele disse parecendo chateado – Mas eu não sei
mais o que posso fazer pra te mostrar que não é nada disso, então continue
pensando assim e espero que um dia você perceba a realidade. E sério, não tem
problema se acha que eu não sou ninguém.
Ele levantou-se abruptamente
derrubando dois copos de suco de laranja da bandeja e molhando um pouco os
lençóis. Me senti mal. Na verdade eu tinha consciência de que a vida dele não
era as mil maravilhas que eu pensava no começo, mas ele me irritou falando
sobre meu pai e acabei falando sem pensar. Coloquei a bandeja de lado e me
livrei dos lençóis molhados. Sai pelo apartamento à procura de Justin e
encontrei-o na cozinha. Estava de costas para mim, com as mãos apoiadas na pia
e a cabeça baixa. Aproximei-me e toquei sua mão. Sua pele estava gélida. Ele
não se moveu.
-
Justin... – disse com a voz mais mansa que poderia fazer.
Ele olhou para mim e seu maxilar
estava travado. Seu rosto expressava ódio e confesso que dava um pouco de medo,
mas ficava sexy. Justin não era do tipo não agressivo, ou calmo, se preferir.
-
Eu sei que sua vida também não é fácil. Eu não quis dizer aquilo. Só estava
irritada. Não quero brigar com você, vamos esquecer isso, tudo bem?
Justin não disse nada. Sabia o
que queria fazer. Então me inclinei um pouco e o abracei. Ele retribuiu depois
de alguns segundos. Parecia que tudo girava ao nosso redor. Era como se a Terra
tivesse parado de dar atenção à órbita do Sol e começasse a fazer seu movimento
em torno do nosso abraço. Minha pele contra a dele. Seu cheiro invadindo meu
nariz. Suas mãos frias tocando meus ombros. Justin afrouxou o abraço e
desvencilhei-me dele. Agora seu rosto não demonstrava nenhuma expressão.
-
Tenho que te levar pra casa. Vou resolver algumas coisas no banco.
Assenti e depois de me deixar em
casa, Justin saiu cantando pneu, o que fez alguns vizinhos abrirem as janelas
para espiar a rua. Passei o resto da tarde tentando não pensar na carta, o que
de certa forma era pensar nela. Mas tive sucesso. Em compensação, fiquei
imaginando onde Justin estaria agora. Na verdade não acreditava que ele iria
“resolver algumas coisas no banco”. Devia ter se cansado de mim e ido procurar
outra menina pra se divertir. Esse pensamento fazia meu estômago revirar. Então
tentei também não pensar nisso. Sem sucesso. Teria que ocupar minha cabeça com
alguma coisa mas não tinha ideia do que seria. Subitamente me ocorreu, como se
eu tivesse me esquecido, que já era 19 horas e eu ainda não saíra da vida de
prostituta. Procurei a vontade de me arrumar enquanto o pensamento de que teria
de enfrentar transar com um ou mais desconhecidos outra noite me atormentava.
Logo, me senti desanimada e com uma preguiça que nunca tivera antes de sair de
casa. Apesar disso, tomei banho e me arrumei rapidamente e sai pelas ruas em
direção à boate, reparando em todas as pessoas que passavam por mim. Com minha
roupa não dava para perceber o que eu estava indo fazer, então não era o centro
das atenções como acontecia muitas vezes.
A música era Hangover – Taio
Cruz. A fumaça se fazia pouco presente. A boate estava lotada como nunca. Muitas
pessoas já estavam bêbadas e podia contar nos dedos quantas estavam paradas.
Além do cara do bar, três mulheres e dois homens. Foi a primeira vez desde que
comecei a frequentar aquele lugar que decidi não ser só mais uma prostituta,
mas me divertir. Me divertir de verdade em uma balada sem pensar nas contas e
na comida que logo faltaria na minha geladeira. Me divertir como nunca havia
feito antes.
Depois de dançar cerca de quinze
músicas e já estar com a visão um pouco embaçada devido a quatro copos de
vodka, senti um puxão no meu braço e fui arrastada para fora do aglomerado de
pessoas que estavam amontoadas enquanto dançavam. Olhei para trás e vi um dos
homens que antes estavam parados. Ele tinha um pouco de barba e aparentava ter
30 anos. Estava vestido formal demais para uma boate e só agora reparara nisso.
-
Desculpe, em que posso ajuda-lo? – perguntei cautelosa, ele me observava como
se estivesse me avaliando.
-
Ah... Claro, claro – sorriu – Me chamo Mark. E você é...?
-
Megan. Megan Martinez. – disse apertando sua mão em forma de cumprimento.
-
Eu sou de uma agência de modelos. Você... hum...está atendendo a algum contrato
no momento?
-
Como modelo? – perguntei estranhando – Ah não, na verdade eu...
-
Você não é modelo? – Mark sorriu. – Sinceramente não sei como ainda não te
descobriram aqui. Nunca nem tentou trabalhar nesse ramo?
-
Nunca ninguém me disse antes que eu tinha beleza suficiente para isso então...
-
É um desperdício. – disse me interrompendo pela segunda vez - Está trabalhando
em que agora?
-
Estou em... Um projeto pessoal, isso me toma um pouco de tempo – menti, apenas
porque não queria ter o desgosto de dizer que era prostituta naquela boate.
-
Bom... Fica com você o meu cartão e quando estiver livre, pense na minha
proposta. Tenho certeza de que nasceu para as passarelas. A propósito, você é
linda. Vou esperar pela sua ligação.
E então depois de me entregar um
cartão que tirou do bolso, saiu acompanhado pelo outro homem vestido tão formal
quanto ele. Apertei o cartão entre os dedos e o guardei em minha pequena bolsa
de mão. Queria passar horas e horas pensando no que havia acontecido, mas não
tinha tempo para parar de me divertir. Quando ia voltar à pista de dança, minha
atenção, assim como a de muitas pessoas ainda sóbrias ali, foi chamada por uma
roda que se formava ao redor de duas pessoas das quais emitiam muitos gritos. Fui
me aproximando e me espremendo entre muita gente. De alguma forma, parecia
conhecer aquelas vozes. Levava cotoveladas e empurrões. Não me importava. Até
que cheguei ao centro da roda e não quis acreditar no que via. Bryan, sóbrio,
com a camiseta azul marinho rasgada e os olhos exalando fúria, partia para cima
de Justin, completamente bêbado, que aparentava não saber o motivo por estar
metido em uma briga e com o nariz sangrando. Sabia que se Justin estivesse são
não estaria naquela situação, Bryan é que estaria muito pior. Vi um pouco além
e Emily segurava forte o braço de seu irmão com a ajuda de Chaz, porém os dois
não eram suficientes para segurá-lo. Justin foi nocauteado com um soco
na bochecha esquerda e caiu sentado enquanto xingava. Não poderia ficar parada,
não poderia ver Bryan machucando-o mais. Quando ele ameaçou dar outro soco em
Justin eu entrei no meio e acabei sendo acertada por sua mão, Bryan me viu e se
encolheu devagar, agora com o olhar curioso e surpreso.
- Desculpe, mas você tem a Emily e o Justin não tem ninguém.
Virei-me
para trás e ajudei Justin a se levantar. Logo quando o fez, o fedor de álcool da
sua boca era inconfundível. Ele riu estranho. Ia começar a andar com ele quando
Bryan me deteu.
- Megan, se você for com ele, esquece que eu existo – seu tom
era sério.
Olhei
para Justin e depois voltei meu olhar para ele, tentando dizer “desculpe” sem
emitir nenhum som. Bryan sacudiu a cabeça em um sinal de confirmação e sua
expressão passou de séria para decepcionada. Me sentira mal, mas sabia que
Justin precisava de mim mais do que ele naquele momento. Passei um braço dele
pelo meu pescoço e segurei em sua cintura, andando devagar e com dificuldade,
pois suas pernas estavam cambaleando. Fora da boate, ajudei-o a deitar-se no
banco traseiro de um táxi e fui sentada com sua cabeça em meu colo. Imaginei
que aquela posição estava desconfortável para ele mas logo chegaríamos em casa.
Passava os dedos pelos seus fios macios de cabelo enquanto Justin cantava uma
música que nunca ouvira antes, me olhava nos olhos e sorria. Eu ri e acariciei
sua bochecha esquerda. Estava roxa. O sangre no nariz estava seco. Ele era
lindo. O nariz tinha uma forma espetacular, e cada centímetro de seu rosto
parecia ter sido feito pelo melhor arquiteto existente, atingindo a perfeição. Naquele
momento eu tive uma certeza: eu gostava dele. Gostava do jeito dele e da
companhia dele, mesmo bêbado. Lembrei-me de Bryan e do seu olhar decepcionado e
pedi mentalmente que ele me perdoasse por isso. Perguntava-me se fizera a
escolha certa.
Continua...
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Megan: http://25.media.tumblr.com/ea5017cbbdebbae465be78e414c07d6f/tumblr_msa8a6wfF61sfn28fo1_500.gif
Justin: http://31.media.tumblr.com/7420df8a38b13ce4ae9a3c7e1087b58d/tumblr_msilmlI5yK1sbkcgho1_500.gif http://24.media.tumblr.com/60142c5a1b899b8608d462394ec571eb/tumblr_msf2q0KCYo1rg1awxo2_500.gif
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