segunda-feira, 2 de setembro de 2013

She Will Be Loved - Esquece que eu existo.

- Ei, acorde! – ouvi uma voz desconhecida e grossa gritar, mas apesar do tom alterado, o som parecia estar longe. Tentei abrir os olhos, mas ao mesmo tempo uma força que não sabia de onde vinha tentava me manter inconsciente – Mas que diabos...? Você já deveria ter voltado ao normal, só pode estar de brincadeira! Hector, tem certeza de que ela está viva?
- S-Sim! Eu apenas a dei o remédio que o senhor mesmo disse. Veja, ela continua respirando – uma voz mais suave disse e o temor estava estampado em seu tom.
- Acorda, Megan! O que há de errado?
                O imaginar que talvez não conseguiria voltar ao normal estava me desesperando. Mas então tentei abrir os olhos mais uma vez, e no começo tudo estava embaçado, mas logo as coisas foram entrando em foco. Via o teto branco e Justin me olhando sem nenhuma expressão. As duas outras coisas que reparei foram: estava sem camisa e com o cabelo bagunçado.
- Você está bem? – sua voz estava mais rouca que o de costume.
- Sim. Só tive um pesadelo.       
                Ele assentiu e saiu dali. Então reparei que estava deitada em sua cama. Respirei fundo e minha alma pareceu descarregar-se. Minha mente estava tranquila. Por incrível que pareça estava tranquila. Dei atenção ao meu coração e ele não dizia nada. Por incrível que pareça não dizia nada. Eu me sentia bem. Justin tornou a entrar no quarto segurando uma bandeja. Olhei para o que tinha ali e para ele. Não pude conter um sorriso de incredulidade. Depois de se aproximar e se sentar ao meu lado com a bandeja cheia de coisas para café da tarde entre nós, ficamos mantendo apenas nossos olhos ligados por um momento que me a meu ver, foi curto. Então Justin pigarreou, e pareceu querer me dizer algo mas não saber como.
- Eu tenho uma notícia não muito boa – sua voz vacilou.
- O que aconteceu? – perguntei afobada.
- A Rua das Esmeraldas não existe.
- E daí? – perguntei sem saber porque ao certo aquilo era ruim.
- E daí... Que é a rua que seu “pai” nos deixou como endereço. Procurei na internet e nem sinal dessa rua em Los Angeles.
                Esquecera-me completamente do bilhete.
- Ele pode ter errado, eu queria muito ir lá hoje, mas não me importo de esperar outra carta com a correção do endereço – disse convicta.
- Não acha estranho ele ter errado o nome da rua que mora a tanto tempo?
- Justin, o que você está querendo dizer com isso? Quer me desanimar ou me ajudar? – perguntei, alterando um pouco a voz sem me dar conta disso.
- Não é isso, Megan. Mas isso está muito estranho e eu não quero que você se decepcione se, por um acaso, não for o seu pai. Só quero te manter com os pés no chão. Temos que pensar em todas as possibilidades, e estou pensando numa das melhores quando digo que pode não ser ele. E se quer saber a pior delas, lá vai. Já passou pela sua cabeça que pode não ser ele e sim um bandido ou sequestrador ou sei lá o que só usando a história do seu pai pra chegar até você?
                A esse ponto meus olhos já estavam cheios de lágrimas e meu Deus, como ele podia pensar assim? Respirei fundo fazendo força para engolir o choro.
- É a letra dele, Justin. Você não entende, você tem seus pais vivos e pode chamá-los a hora que quiser. É fácil pra você. Já eu – dei uma risada abafada e sínica – Eu, Justin, eu não tenho ninguém.
- Mesmo depois de tudo que eu te disse mais cedo você continua achando que eu tenho uma vida perfeita, não é? – ele disse parecendo chateado – Mas eu não sei mais o que posso fazer pra te mostrar que não é nada disso, então continue pensando assim e espero que um dia você perceba a realidade. E sério, não tem problema se acha que eu não sou ninguém.
                Ele levantou-se abruptamente derrubando dois copos de suco de laranja da bandeja e molhando um pouco os lençóis. Me senti mal. Na verdade eu tinha consciência de que a vida dele não era as mil maravilhas que eu pensava no começo, mas ele me irritou falando sobre meu pai e acabei falando sem pensar. Coloquei a bandeja de lado e me livrei dos lençóis molhados. Sai pelo apartamento à procura de Justin e encontrei-o na cozinha. Estava de costas para mim, com as mãos apoiadas na pia e a cabeça baixa. Aproximei-me e toquei sua mão. Sua pele estava gélida. Ele não se moveu.
- Justin... – disse com a voz mais mansa que poderia fazer.
                Ele olhou para mim e seu maxilar estava travado. Seu rosto expressava ódio e confesso que dava um pouco de medo, mas ficava sexy. Justin não era do tipo não agressivo, ou calmo, se preferir.
- Eu sei que sua vida também não é fácil. Eu não quis dizer aquilo. Só estava irritada. Não quero brigar com você, vamos esquecer isso, tudo bem?
                Justin não disse nada. Sabia o que queria fazer. Então me inclinei um pouco e o abracei. Ele retribuiu depois de alguns segundos. Parecia que tudo girava ao nosso redor. Era como se a Terra tivesse parado de dar atenção à órbita do Sol e começasse a fazer seu movimento em torno do nosso abraço. Minha pele contra a dele. Seu cheiro invadindo meu nariz. Suas mãos frias tocando meus ombros. Justin afrouxou o abraço e desvencilhei-me dele. Agora seu rosto não demonstrava nenhuma expressão.
- Tenho que te levar pra casa. Vou resolver algumas coisas no banco.
                Assenti e depois de me deixar em casa, Justin saiu cantando pneu, o que fez alguns vizinhos abrirem as janelas para espiar a rua. Passei o resto da tarde tentando não pensar na carta, o que de certa forma era pensar nela. Mas tive sucesso. Em compensação, fiquei imaginando onde Justin estaria agora. Na verdade não acreditava que ele iria “resolver algumas coisas no banco”. Devia ter se cansado de mim e ido procurar outra menina pra se divertir. Esse pensamento fazia meu estômago revirar. Então tentei também não pensar nisso. Sem sucesso. Teria que ocupar minha cabeça com alguma coisa mas não tinha ideia do que seria. Subitamente me ocorreu, como se eu tivesse me esquecido, que já era 19 horas e eu ainda não saíra da vida de prostituta. Procurei a vontade de me arrumar enquanto o pensamento de que teria de enfrentar transar com um ou mais desconhecidos outra noite me atormentava. Logo, me senti desanimada e com uma preguiça que nunca tivera antes de sair de casa. Apesar disso, tomei banho e me arrumei rapidamente e sai pelas ruas em direção à boate, reparando em todas as pessoas que passavam por mim. Com minha roupa não dava para perceber o que eu estava indo fazer, então não era o centro das atenções como acontecia muitas vezes.
                A música era Hangover – Taio Cruz. A fumaça se fazia pouco presente. A boate estava lotada como nunca. Muitas pessoas já estavam bêbadas e podia contar nos dedos quantas estavam paradas. Além do cara do bar, três mulheres e dois homens. Foi a primeira vez desde que comecei a frequentar aquele lugar que decidi não ser só mais uma prostituta, mas me divertir. Me divertir de verdade em uma balada sem pensar nas contas e na comida que logo faltaria na minha geladeira. Me divertir como nunca havia feito antes.
                Depois de dançar cerca de quinze músicas e já estar com a visão um pouco embaçada devido a quatro copos de vodka, senti um puxão no meu braço e fui arrastada para fora do aglomerado de pessoas que estavam amontoadas enquanto dançavam. Olhei para trás e vi um dos homens que antes estavam parados. Ele tinha um pouco de barba e aparentava ter 30 anos. Estava vestido formal demais para uma boate e só agora reparara nisso.
- Desculpe, em que posso ajuda-lo? – perguntei cautelosa, ele me observava como se estivesse me avaliando.
- Ah... Claro, claro – sorriu – Me chamo Mark. E você é...?
- Megan. Megan Martinez. – disse apertando sua mão em forma de cumprimento.
- Eu sou de uma agência de modelos. Você... hum...está atendendo a algum contrato no momento?
- Como modelo? – perguntei estranhando – Ah não, na verdade eu...
- Você não é modelo? – Mark sorriu. – Sinceramente não sei como ainda não te descobriram aqui. Nunca nem tentou trabalhar nesse ramo?
- Nunca ninguém me disse antes que eu tinha beleza suficiente para isso então...
- É um desperdício. – disse me interrompendo pela segunda vez - Está trabalhando em que agora?
- Estou em... Um projeto pessoal, isso me toma um pouco de tempo – menti, apenas porque não queria ter o desgosto de dizer que era prostituta naquela boate.
- Bom... Fica com você o meu cartão e quando estiver livre, pense na minha proposta. Tenho certeza de que nasceu para as passarelas. A propósito, você é linda. Vou esperar pela sua ligação.
                E então depois de me entregar um cartão que tirou do bolso, saiu acompanhado pelo outro homem vestido tão formal quanto ele. Apertei o cartão entre os dedos e o guardei em minha pequena bolsa de mão. Queria passar horas e horas pensando no que havia acontecido, mas não tinha tempo para parar de me divertir. Quando ia voltar à pista de dança, minha atenção, assim como a de muitas pessoas ainda sóbrias ali, foi chamada por uma roda que se formava ao redor de duas pessoas das quais emitiam muitos gritos. Fui me aproximando e me espremendo entre muita gente. De alguma forma, parecia conhecer aquelas vozes. Levava cotoveladas e empurrões. Não me importava. Até que cheguei ao centro da roda e não quis acreditar no que via. Bryan, sóbrio, com a camiseta azul marinho rasgada e os olhos exalando fúria, partia para cima de Justin, completamente bêbado, que aparentava não saber o motivo por estar metido em uma briga e com o nariz sangrando. Sabia que se Justin estivesse são não estaria naquela situação, Bryan é que estaria muito pior. Vi um pouco além e Emily segurava forte o braço de seu irmão com a ajuda de Chaz, porém os dois não eram suficientes para segurá-lo. Justin foi nocauteado com um soco na bochecha esquerda e caiu sentado enquanto xingava. Não poderia ficar parada, não poderia ver Bryan machucando-o mais. Quando ele ameaçou dar outro soco em Justin eu entrei no meio e acabei sendo acertada por sua mão, Bryan me viu e se encolheu devagar, agora com o olhar curioso e surpreso.
- Desculpe, mas você tem a Emily e o Justin não tem ninguém.
                Virei-me para trás e ajudei Justin a se levantar. Logo quando o fez, o fedor de álcool da sua boca era inconfundível. Ele riu estranho. Ia começar a andar com ele quando Bryan me deteu.
- Megan, se você for com ele, esquece que eu existo – seu tom era sério.

                Olhei para Justin e depois voltei meu olhar para ele, tentando dizer “desculpe” sem emitir nenhum som. Bryan sacudiu a cabeça em um sinal de confirmação e sua expressão passou de séria para decepcionada. Me sentira mal, mas sabia que Justin precisava de mim mais do que ele naquele momento. Passei um braço dele pelo meu pescoço e segurei em sua cintura, andando devagar e com dificuldade, pois suas pernas estavam cambaleando. Fora da boate, ajudei-o a deitar-se no banco traseiro de um táxi e fui sentada com sua cabeça em meu colo. Imaginei que aquela posição estava desconfortável para ele mas logo chegaríamos em casa. Passava os dedos pelos seus fios macios de cabelo enquanto Justin cantava uma música que nunca ouvira antes, me olhava nos olhos e sorria. Eu ri e acariciei sua bochecha esquerda. Estava roxa. O sangre no nariz estava seco. Ele era lindo. O nariz tinha uma forma espetacular, e cada centímetro de seu rosto parecia ter sido feito pelo melhor arquiteto existente, atingindo a perfeição. Naquele momento eu tive uma certeza: eu gostava dele. Gostava do jeito dele e da companhia dele, mesmo bêbado. Lembrei-me de Bryan e do seu olhar decepcionado e pedi mentalmente que ele me perdoasse por isso. Perguntava-me se fizera a escolha certa.
Continua...

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Megan: http://25.media.tumblr.com/ea5017cbbdebbae465be78e414c07d6f/tumblr_msa8a6wfF61sfn28fo1_500.gif
Justin: http://31.media.tumblr.com/7420df8a38b13ce4ae9a3c7e1087b58d/tumblr_msilmlI5yK1sbkcgho1_500.gif http://24.media.tumblr.com/60142c5a1b899b8608d462394ec571eb/tumblr_msf2q0KCYo1rg1awxo2_500.gif

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