Antes de descermos do táxi
Justin deu um beijo com bafo de álcool no rosto do motorista, o que o deixou
com raiva e o fez pedir que eu saísse dali logo com Justin. Segurei-o firme
enquanto fechava a porta do carro e ainda ria com a reação nervosa do homem de
cerca de 50 anos.
-
Eu posso ir sozinho – disse Justin com a voz embargada, dando um passo à frente
e desvencilhando-se do meu braço que o apoiava.
Justin estendeu os dois braços e
andou abruptamente até tropeçar na guia e cair de bunda na calçada. Imaginei
que sua intenção era segurar-se no poste ao lado, mas foi na direção contrária.
Aproximei-me dele e ofereci minha mão para ajudá-lo a levantar-se, porém ele
não a segurou. Apenas olhou para mim e deu dois tapinhas do seu lado. Sentei-me
ali e senti a mistura do seu perfume com o cheiro de álcool. Ficamos assim
durante um tempo, sem dizer nada, apenas de bobeira. Desejei que ele estivesse
sóbrio. Seu olhar estava distante. Eu olhava para frente, às vezes para ele,
mas não percebia.
-
Trisha, você é tão linda. Eu sinto sua falta. Desculpe ter errado com você. Sei
que sou um estúpido. Não consigo esquecer tudo que vivi com você. Se eu pudesse
faria tudo de novo e mudaria o final da nossa história. Queria que você
estivesse aqui. – Justin disse pausadamente e com a voz arrastada, quebrando o
longo silêncio. A cada frase eu ficava mais intrigada, mas quando disse a
última, senti meu coração fraquejar. Senti-me horrível por ele estar comigo
pensando em outra pessoa. Isso só mostrava o quanto insuficiente eu era. Tudo
bem, ele estava bêbado, mas dizem que é quando as pessoas dizem as verdades. E
eu sempre acreditei nisso.
Justin abaixou a cabeça. Ouvir
aquilo me fez mal, mas sem dúvida alguma vê-lo naquela situação era
imensuráveis vezes pior. E juntando tudo, eu me sentia tão insignificante
quanto uma formiga no meio da multidão de humanos. Queria poder fazê-lo feliz,
queria que o fizesse esquecer Trisha, independente de quem tenha sido e do que
aconteceu com ela. Mas sabia, talvez mais que muita gente, que no nosso coração
os lugares de algumas pessoas não podem simplesmente ser ocupados por outras.
-
Vamos entrar? Está ficando frio aqui – disse passando as mãos pelos braços,
como se aquilo fosse ajudar a me esquentar.
Levantei-me e quando ia me virar
parar ajudar Justin a fazer o mesmo, ele já havia feito. Mais do que isso,
estava de frente com o portão de minha casa olhando fixamente para o... chão?
Aproximei-me e ele nem se mexeu. Depois começou a rir baixo, e seu riso foi se
erguendo até chegar a ser uma gargalhada. Tive vontade de batê-lo por ser tão
idiota. Parecia que tinham lhe contado a melhor piada do mundo.
-
Isso... – disse fazendo esforço para recuperar o ar – Isso... É um portal! –
respirou fundo e parou de rir abruptamente, como se tivesse percebido que a
piada não tem graça alguma, e sua expressão ficou séria – Vem, Megan. Você
precisa me ajudar a encontrar a passagem secreta, só precisamos descobrir onde
fica e consequentemente como abri-la, se trabalharmos juntos não teremos
problemas com isso. – disse andando de um lado para o outro, parecendo um nerd
paranoico e obcecado procurando a resposta de uma questão. “Então agora você
lembra meu nome”, pensei. Justin abaixou-se e se ajoelhou diante do portão,
tateando o chão com as duas mãos como se fosse possível um pedaço de concreto
sair dali com tal facilidade. – Vamos conseguir chegar em Groenlândia, sei que
vamos. E depois disso nunca mais sofreremos,
porque em Groenlândia ninguém sofre. Lá poderemos fazer o que quisermos sem
medo de nos julgarem. Em Groenlândia a vida é diferente. É o paraíso para
qualquer pessoa. Groen... Lândia. Estamos quase lá. Não podemos desistir, não
vamos. Os rios são feitos de milk-shake e as folhas das árvores são batatas
fritas. É melhor que o País das Maravilhas. Em Groenlândia todos seremos
amigos, cantaremos músicas que falam sobre paz enquanto estivermos unidos em um
círculo perfeito com as mãos dadas e girando livremente. Quem quiser apenas
sussurrar, poderá apenas sussurrar, quem quiser gritar, poderá gritar. Lá
seremos finalmente as pessoas dentro de nós que são tão reprimidas pela
sociedade nesse mundo injusto. Em Groenlândia não há sociedade. Todos somos
livres. Não existem diferenças. Não existe morte. Não existe doença. Não existe
dor. Podemos tanto comer algodão doce o dia todo e não pegar diabete, quanto
usar drogas o dia todo e não morrer de overdose. Como eu disse... É o paraíso.
Precisamos nos salvar, precisamos chegar em Groenlândia. As paredes têm gosto
de paçoca e o telhado de doce de abóbora. A primeira coisa que farei quando
chegarmos é brincar com as crianças de amarelinha. As crianças... Seres tão
adoráveis. Como podem existir pessoas que não gostam delas? São tão inocentes.
Espere mais um pouco. Estou chegando lá. Groenlândia... – murmurava alto o
suficiente para eu escutar enquanto continuava a parecer um louco que precisa
se internar em um hospital psiquiátrico o mais rápido possível em um quarto com
segurança reforçada.
Não sabia se ria ou me
preocupava por vê-lo naquela situação deplorável. Dizem que quando bêbadas cada
pessoa tem uma reação. Então a dele era essa, ser bipolar, ficar mais idiota do
que normalmente é e relembrar coisas do passado?
-
Justin – chamei enquanto me abaixava e segurava seus dois pulsos, quando
consegui fazer com que ele prestasse atenção em mim continuei – Depois você
pode vim continuar procurando o portal, mas não vai querer chegar em Groenlândia
cheirando mal, vai? – Imediatamente ele se levantou.
Entramos em casa e joguei as
chaves no sofá. Quando olhei ao meu redor, Justin já não estava mais ali. Fui
até meu quarto e ouvi um murmúrio vindo do banheiro. Assim que adentrei ali
observei Justin com as duas mãos apoiadas no vidro do box, ele as olhava
fixamente enquanto mexia os dedos e sorria. “É, te dar banho vai ser uma coisa
difícil”, pensei.
-
Você precisa tirar a roupa – disse chamando sua atenção, Justin virou-se para
mim e mordeu os lábios, fazendo uma cara de safado – Não é para o que está
pensando. Precisa é de um banho.
Justin deu de ombros e voltou-se
para o box transparente, bufei. Fui até ele e comecei a puxar sua camiseta para
cima, ele ergueu os braços para facilitar e depois de tirada, deixei-a cair no
cesto de roupa suja. Observei por um momento as pintinhas em sua costa e as
curvas perfeitas que ela fazia. Justin pigarreou e segurei sua cintura,
fazendo-o virar-se de frente para mim. Coloquei as mãos na barra da sua calça e
logo a desabotoei e abri seu zíper. Em seguida abaixei-a e Justin terminou
tirando os pés. Ele me olhou de cima a baixo e quando me dei conta estava a
poucos centímetros do meu rosto. Olhei para seus lábios e estavam perto demais
para que eu pudesse resistir. Beijei-o calmamente, suas mãos segurando minha
cintura enquanto apertava meu corpo contra o seu e as minhas arranhando
levemente sua costa. Mordi seu lábio e pude jurar que ele sorrira. Desfiz o
beijo e fiquei sem jeito, petrificada, Justin me olhando sem expressão. Apontei
para o chuveiro e ele assentiu. Sai do banheiro e respirei fundo, como se ali
estivesse me faltando oxigênio. Fui para cozinha e preparei rapidamente um
macarrão com queijo. Quando voltei ao quarto Justin estava sentado na minha
cama só de cueca e secando o cabelo com uma toalha branca. Assim que percebeu
minha presença parou e me olhou. Mas aquele não era o olhar do Justin bêbado,
era o olhar do Justin sóbrio que mesmo sendo implicante eu gostava. Não saberia
dizer se o banho o ajudara 100%, mas aparentemente ele estava bem melhor.
-
Eu não achei outra, então usei a que tinha no banheiro – disse se referindo à
toalha.
-
Tudo bem – sorri internamente por saber que ele pensava que eu me importaria
com isso. – A comida está pronta. – disse e sai em direção à cozinha, com
Justin atrás de mim.
Devo admitir que, apesar de
estar acostumada a vê-lo de cueca, era estranho vê-lo de cueca na minha sala em
um momento no qual não pensávamos em transar. Depois de jantarmos, colocamos
meu colchão de casal na sala e jogamos sobre ele travesseiros e cobertas. Não
fazia frio. Na verdade estávamos com o ventilador do teto rodando no volume
máximo e mesmo assim não parecia suficiente. No entanto o costume de dormir
enrolada nas cobertas era mais forte que o calor. Colocamos “Invocação do Mal”
no aparelho de DVD e nos deitamos. A princípio, mantivemos uma distância um do
outro. Mas logo Justin abriu o braço e eu me aconcheguei no seu ombro. Seu
cheiro natural invadindo minha narina mais uma vez. Ele parecia realmente
totalmente sóbrio, e era bom não tê-lo cheirando álcool. É claro que fui contra
a escolha desse filme, implorei que víssemos uma comédia, mas Justin prometeu
que na próxima vez eu escolheria e que me protegeria se ficasse com medo.
Acreditei nele como uma criança acredita na história da cegonha. Confiar em
Justin era algo que de alguma maneira me assustava. Como se eu fosse capaz de
realmente crer em Papai Noel se fosse ele a me contar sobre isso. No meio do
filme, depois de já ter me encolhido diversas vezes para não olhar a tela da
televisão, Justin quebrou o silêncio entre nós.
-
Megan – sua voz saiu rouca, e devo dizer que a preferia assim. Apertei sua mão
como sinal de que ele poderia continuar – Obrigado. Digo, por ter me escolhido
mais cedo. É uma sensação boa. Ser escolhido por alguém. Principalmente se esse
alguém for você.
Ergui a cabeça para olhá-lo e vi
que não desviara o olhar da televisão.
-
Ok – disse apenas e tornei a me aconchegar em seu ombro.
-
Você gosta de mim? – disparou, me surpreendendo com a pergunta. Nunca passou
pela minha cabeça que ele se importava com isso. Quase que simultaneamente nos
olhamos, seus olhos estavam brilhando e transmitindo o que eu chamaria de...
paz.
-
Sim. E gosto de estar com você. – respondi primeiro porque era a verdade,
segundo porque sentia que era o que ele precisava ouvir.
Justin sorriu e eu devolvi o
sorriso. Depois me deu um beijo na testa e voltou sua atenção ao filme. Fiz o
mesmo, apesar de estar cansada o suficiente para não conseguir me concentrar no
que acontecia na tela. Senti minhas pálpebras pesarem, de repente fiquei leve e
foi como se pudesse voar, logo perdi todos os sentidos.
Abri os olhos devagar devido à
luz matinal. O primeiro som que reconheci foi da respiração de Justin,
acima da minha cabeça, estávamos exatamente do mesmo jeito que dormimos. Ele
dormia em um sono profundo, estava quase roncando. Dei um beijo em seu nariz, levantei-me
cuidadosamente para não acordá-lo e fui direto ao banheiro. Tomei um banho
demorado e vesti-me com uma camiseta bem maior que eu e um short de malha
curto. Fui para cozinha e coloquei água para ferver. Quando estava lavando a
louça, senti alguém segurar minha cintura e em seguida me abraçar por trás,
beijando meu pescoço. Senti meu corpo todo se arrepiar e desejei que ele não
notasse, apesar de ser quase impossível levando em conta que estava colado em
mim. Justin soltou um risinho. Virei o pescoço e beijei sua bochecha.
- O que foi, voltamos ao jardim de infância? – disse em
tom de deboche. Revirei os olhos e selei nossos lábios demoradamente. – Legal.
Progredimos. Agora estamos no Ensino Fundamental. – respirei fundo e deixei um
copo de lado. Virei-me de frente para ele e com as mãos cheias de sabão segurei
seu pescoço, sem pestanejar beijei-o. Mas foi um beijo de verdade. Deixei
transparecer o quanto queria ter feito isso antes. Às vezes não tem problema
deixar o orgulho de lado. Às vezes dar um beijo com sabor de “quero ser amada”
não faz mal. Justin beijava bem. Na verdade, devia ter dito isso antes. Diria
que ele era melhor nisso do que qualquer outro homem que já tenha beijado, e
isso que foram muitos. O segundo lugar vai para... Bryan. Mas todos querem
sempre o primeiro lugar, seja relacionado a beijo ou a melhor e mais nova
tecnologia. Com Justin certamente não era diferente. Todas as meninas o
desejavam. Ninguém dava créditos ao segundo e terceiro lugares. Gostaria que
dessem, pois Bryan merecia, assim como o futuro homem do terceiro lugar, que eu
ainda não descobrira. De repente, lembrei-me da noite anterior e do olhar
decepcionado que ganhara de Bryan. Parei o beijo. Situei minhas mãos e percebi
que estavam na bunda de Justin, logo as recolhi. Ele umedeceu os lábios e
disse:
- Ensino Médio. – deu um sorriso de canto.
- Posso saber quando seríamos adultos?
- Quando você estiver na cama, nu, me olhando com cara de
safada, com uma música não necessariamente lenta tocando.
Soltei
uma risada alta. Justin ficou sério.
- O que foi? Sexo agora é só para desconhecidos? Se eu for
procurar outra pra satisfazer minhas vontades você não reclama. – senti meu
sangue ferver no instante que ele terminou. Agora também estava séria.
- Eu não quero brigar. E pelo amor de Deus, pense muito
antes de dizer algo a mim. Você me machuca com isso e nem sabe o quanto. Meça
as palavras. – apesar de nervosa, automaticamente deixei meu lado emotivo
falar. Um dos meus piores defeitos. Baixei a cabeça.
- Deixa de ser dramática. Se for porque disse que vou
procurar outra, é exatamente o que vou fazer se continuar com essa sua postura
de idiota. – cuspiu as palavras.
- Eu não sou só sexo, Justin! – disse alterando a voz - Já
basta ter que transar todos os dias para conseguir dinheiro, ser humilhada e
julgada pelas pessoas que acham que faço isso por prazer. Mas eu não tenho
opção! Cansei disso. E se quiser ir procurar outra, tudo bem. Eu vou entender.
Não eu não sinto ciúme de você. Não sou sua dona e não é como se estivéssemos
namorando. – disse tudo muito rápido, gostaria de piscar e voltar ao momento em
que ele ainda dormia e eu acabara de acordar.
- Então não foi nada pra você? – disse em seu tom de voz
normal - O elevador, o brigadeiro – é, eu andei treinando -, a ida à minha
casa, quando eu vim aqui depois de nos encontrarmos no mercado, nossa primeira
vez, ontem... O que aconteceu com aquele “sim” quando te perguntei se gostava
de mim? Pois é, eu já estava sóbrio. Lembro-me de tudo depois do banho. Para de
fingir que não sente nada, Megan. – terminou de dizer e tinha mágoa no olhar.
Senti-me culpada, apesar de saber que não era.
- Se quiser saber a verdade, Justin, vou te dizer. Eu
sinto, e eu realmente gosto de você. Mas eu me sinto assustada, pois nunca
senti isso antes e ambos sabemos que eu não posso... – ele me interrompeu.
- Eu não me importo se você se prostitui. Na verdade,
ontem eu fui na boate pra te encontrar e te dizer que não precisa mais fazer
isso.
- E você acha que vou fazer o que? Viver do seu dinheiro?
– ri sarcasticamente – Não rola.
- Não necessariamente. Nós transamos e eu te pago por
isso. Prostituição pra uma pessoa só. Será que não dá pra deixar o orgulho de
lado pelo menos dessa vez? Assim além de ficarmos juntos, você não é obrigada a
ir àquela boate toda noite pra ganhar uma mixaria.
- Podemos conversar sobre isso depois? – disse e suspirei.
Justin assentiu.
- E desculpe. Eu sei que você é mais que um corpo bonito.
Sorri.
O que mais poderia fazer? Eu acreditava nele.
- Justin – ele me olhou como se esperasse que eu
continuasse. Por um momento pensei em ficar calada, talvez não tocar no assunto
fosse o melhor a se fazer. Mas minha curiosidade era maior e soltei antes mesmo
que percebesse: - Ontem, antes do banho, você estava muito chapado. E mencionou
algo sobre uma pessoa. Disse que sentia falta dela. – pigarreei – Quem é
Trisha?
Seu
rosto se iluminou. Parecia não acreditar que falara dela. Abriu a boca mas não
emitiu som algum e então tornou a fechá-la. Nunca achei que o veria tão sem
jeito.
- Eu... Trisha era minha namorada. Quando vim pra cá, há
três anos atrás, eu a trouxe também. Mas ela nunca mais voltou. Os pais dela me
culpam até hoje. Acho que faria o mesmo. É complicado. Ainda não estou
preparado para falar sobre isso com você, então...
- Tudo bem, Justin. Quando você preferir – sorri e ele
retribuiu. – Eu posso chamar um táxi e te deixar no seu hotel, vou precisar
sair.
- Vai à casa do Bryan, acertei?
Minha
garganta travou e meus olhos devem ter se arregalado. Tudo que pude fazer foi
ficar intacta. Podia jurar que até minha respiração parou. Justin riu.
- Eu não ligo. Não tem problema você ir. Ele deve estar
chateado por ontem e se fosse o contrário, eu gostaria que você fosse atrás de
mim. Só não pode abusar, ok? Deixe os beijos comigo.
Ri,
sentindo-me despetrificada.
A cada passo estava mais
perto da casa de Bryan e a ideia de ainda não saber exatamente o que lhe
falaria estava me desesperando. Parecia que meus pés pesavam dez vezes mais que
o normal. Respirei fundo e bati na porta. Depois outra vez. E mais uma. Ia
levantar a mão para fazer novamente mas ela foi aberta. E o que vi na minha
frente definitivamente não era o que eu esperava muito menos o que eu queria. Jenny,
a garota da sorveteria, estava lá, com os cabelos negros caindo sobre os ombros
e me olhando como se quisesse dizer “ótima hora para aparecer e estragar tudo”.
Desejei que ela percebesse que eu não estava feliz em vê-la tanto quanto ela
não estava em me ver. Bryan chegou por trás dela, segurando em sua cintura com
as duas mãos, e com uma expressão de surpresa ao pousar os olhos em mim. Tentei
dizer algo, mas minha voz parecia ser a única coisa não funcionando no meu
corpo. E naquele momento, ela parecia ser mais importante que o bater de meu
coração. Juntei todas as minhas forças.
- Posso... – engoli em seco. Não conseguia nem completar
uma frase, quem dirá me desculpar com Bryan. Ele e Jenny se entreolharam e
depois de um meneio de cabeça dela, saiu e assim fez com que o ar ficasse de
alguma forma mais leve.
Bryan
deu dois passos e fechou a porta atrás de si. Me olhava sério como nunca fizera
antes.
- Olha, eu... – me interrompeu. Apesar disso, eu sabia que
conseguiria continuar. Isso me levou a uma conclusão: o motivo da minha falta
de voz era Jenny. Ou talvez apenas a presença inesperada dela.
- Não, Megan. Não se desculpe. Poupe-se de fazer isso.
Você teve escolha, e estava em sã consciência, então não pode ter se
arrependido de verdade.
- Eu não me arrependi. A questão é que não precisa ser
assim. Vai deixar de falar comigo por ter ido ajudar Justin, quando ele não
tinha ninguém, e você sua irmã? Isso tão idiota, será que não percebe?
Ele baixou a cabeça e coçou a
testa.
-
Deixei bem claro que era pra me esquecer se fosse com ele. Não vou voltar atrás
com isso.
Dei-me por vencida.
-
Se é assim que você quer, tudo bem. Sabe onde me encontrar.
Bryan olhou em meus olhos uma
última vez, e não consegui decifrar o que eles tentavam transmitir. Mas de uma
coisa tinha certeza: aquele brilho não era normal. Estavam marejados. Virei-me
e apertei os passos em direção à saída do condomínio. Senti seu olhar pesar em
minha costa. Talvez quisesse que eu insistisse. Que implorasse para que ele não
me deixasse. E eu faria isso. Faria mesmo. E por que não fiz? É uma pergunta
para a qual não tenho resposta e talvez nunca tenha.
Continua...
Que saudades!
ResponderExcluir