terça-feira, 24 de setembro de 2013

She Will Be Loved - Você gosta de mim?

                Antes de descermos do táxi Justin deu um beijo com bafo de álcool no rosto do motorista, o que o deixou com raiva e o fez pedir que eu saísse dali logo com Justin. Segurei-o firme enquanto fechava a porta do carro e ainda ria com a reação nervosa do homem de cerca de 50 anos.
- Eu posso ir sozinho – disse Justin com a voz embargada, dando um passo à frente e desvencilhando-se do meu braço que o apoiava.
                Justin estendeu os dois braços e andou abruptamente até tropeçar na guia e cair de bunda na calçada. Imaginei que sua intenção era segurar-se no poste ao lado, mas foi na direção contrária. Aproximei-me dele e ofereci minha mão para ajudá-lo a levantar-se, porém ele não a segurou. Apenas olhou para mim e deu dois tapinhas do seu lado. Sentei-me ali e senti a mistura do seu perfume com o cheiro de álcool. Ficamos assim durante um tempo, sem dizer nada, apenas de bobeira. Desejei que ele estivesse sóbrio. Seu olhar estava distante. Eu olhava para frente, às vezes para ele, mas não percebia.
- Trisha, você é tão linda. Eu sinto sua falta. Desculpe ter errado com você. Sei que sou um estúpido. Não consigo esquecer tudo que vivi com você. Se eu pudesse faria tudo de novo e mudaria o final da nossa história. Queria que você estivesse aqui. – Justin disse pausadamente e com a voz arrastada, quebrando o longo silêncio. A cada frase eu ficava mais intrigada, mas quando disse a última, senti meu coração fraquejar. Senti-me horrível por ele estar comigo pensando em outra pessoa. Isso só mostrava o quanto insuficiente eu era. Tudo bem, ele estava bêbado, mas dizem que é quando as pessoas dizem as verdades. E eu sempre acreditei nisso.
                Justin abaixou a cabeça. Ouvir aquilo me fez mal, mas sem dúvida alguma vê-lo naquela situação era imensuráveis vezes pior. E juntando tudo, eu me sentia tão insignificante quanto uma formiga no meio da multidão de humanos. Queria poder fazê-lo feliz, queria que o fizesse esquecer Trisha, independente de quem tenha sido e do que aconteceu com ela. Mas sabia, talvez mais que muita gente, que no nosso coração os lugares de algumas pessoas não podem simplesmente ser ocupados por outras.
- Vamos entrar? Está ficando frio aqui – disse passando as mãos pelos braços, como se aquilo fosse ajudar a me esquentar.
                Levantei-me e quando ia me virar parar ajudar Justin a fazer o mesmo, ele já havia feito. Mais do que isso, estava de frente com o portão de minha casa olhando fixamente para o... chão? Aproximei-me e ele nem se mexeu. Depois começou a rir baixo, e seu riso foi se erguendo até chegar a ser uma gargalhada. Tive vontade de batê-lo por ser tão idiota. Parecia que tinham lhe contado a melhor piada do mundo.
- Isso... – disse fazendo esforço para recuperar o ar – Isso... É um portal! – respirou fundo e parou de rir abruptamente, como se tivesse percebido que a piada não tem graça alguma, e sua expressão ficou séria – Vem, Megan. Você precisa me ajudar a encontrar a passagem secreta, só precisamos descobrir onde fica e consequentemente como abri-la, se trabalharmos juntos não teremos problemas com isso. – disse andando de um lado para o outro, parecendo um nerd paranoico e obcecado procurando a resposta de uma questão. “Então agora você lembra meu nome”, pensei. Justin abaixou-se e se ajoelhou diante do portão, tateando o chão com as duas mãos como se fosse possível um pedaço de concreto sair dali com tal facilidade. – Vamos conseguir chegar em Groenlândia, sei que vamos. E depois disso nunca mais sofreremos, porque em Groenlândia ninguém sofre. Lá poderemos fazer o que quisermos sem medo de nos julgarem. Em Groenlândia a vida é diferente. É o paraíso para qualquer pessoa. Groen... Lândia. Estamos quase lá. Não podemos desistir, não vamos. Os rios são feitos de milk-shake e as folhas das árvores são batatas fritas. É melhor que o País das Maravilhas. Em Groenlândia todos seremos amigos, cantaremos músicas que falam sobre paz enquanto estivermos unidos em um círculo perfeito com as mãos dadas e girando livremente. Quem quiser apenas sussurrar, poderá apenas sussurrar, quem quiser gritar, poderá gritar. Lá seremos finalmente as pessoas dentro de nós que são tão reprimidas pela sociedade nesse mundo injusto. Em Groenlândia não há sociedade. Todos somos livres. Não existem diferenças. Não existe morte. Não existe doença. Não existe dor. Podemos tanto comer algodão doce o dia todo e não pegar diabete, quanto usar drogas o dia todo e não morrer de overdose. Como eu disse... É o paraíso. Precisamos nos salvar, precisamos chegar em Groenlândia. As paredes têm gosto de paçoca e o telhado de doce de abóbora. A primeira coisa que farei quando chegarmos é brincar com as crianças de amarelinha. As crianças... Seres tão adoráveis. Como podem existir pessoas que não gostam delas? São tão inocentes. Espere mais um pouco. Estou chegando lá. Groenlândia... – murmurava alto o suficiente para eu escutar enquanto continuava a parecer um louco que precisa se internar em um hospital psiquiátrico o mais rápido possível em um quarto com segurança reforçada.
                Não sabia se ria ou me preocupava por vê-lo naquela situação deplorável. Dizem que quando bêbadas cada pessoa tem uma reação. Então a dele era essa, ser bipolar, ficar mais idiota do que normalmente é e relembrar coisas do passado?
- Justin – chamei enquanto me abaixava e segurava seus dois pulsos, quando consegui fazer com que ele prestasse atenção em mim continuei – Depois você pode vim continuar procurando o portal, mas não vai querer chegar em Groenlândia cheirando mal, vai? – Imediatamente ele se levantou.
                Entramos em casa e joguei as chaves no sofá. Quando olhei ao meu redor, Justin já não estava mais ali. Fui até meu quarto e ouvi um murmúrio vindo do banheiro. Assim que adentrei ali observei Justin com as duas mãos apoiadas no vidro do box, ele as olhava fixamente enquanto mexia os dedos e sorria. “É, te dar banho vai ser uma coisa difícil”, pensei.
- Você precisa tirar a roupa – disse chamando sua atenção, Justin virou-se para mim e mordeu os lábios, fazendo uma cara de safado – Não é para o que está pensando. Precisa é de um banho.
                Justin deu de ombros e voltou-se para o box transparente, bufei. Fui até ele e comecei a puxar sua camiseta para cima, ele ergueu os braços para facilitar e depois de tirada, deixei-a cair no cesto de roupa suja. Observei por um momento as pintinhas em sua costa e as curvas perfeitas que ela fazia. Justin pigarreou e segurei sua cintura, fazendo-o virar-se de frente para mim. Coloquei as mãos na barra da sua calça e logo a desabotoei e abri seu zíper. Em seguida abaixei-a e Justin terminou tirando os pés. Ele me olhou de cima a baixo e quando me dei conta estava a poucos centímetros do meu rosto. Olhei para seus lábios e estavam perto demais para que eu pudesse resistir. Beijei-o calmamente, suas mãos segurando minha cintura enquanto apertava meu corpo contra o seu e as minhas arranhando levemente sua costa. Mordi seu lábio e pude jurar que ele sorrira. Desfiz o beijo e fiquei sem jeito, petrificada, Justin me olhando sem expressão. Apontei para o chuveiro e ele assentiu. Sai do banheiro e respirei fundo, como se ali estivesse me faltando oxigênio. Fui para cozinha e preparei rapidamente um macarrão com queijo. Quando voltei ao quarto Justin estava sentado na minha cama só de cueca e secando o cabelo com uma toalha branca. Assim que percebeu minha presença parou e me olhou. Mas aquele não era o olhar do Justin bêbado, era o olhar do Justin sóbrio que mesmo sendo implicante eu gostava. Não saberia dizer se o banho o ajudara 100%, mas aparentemente ele estava bem melhor.
- Eu não achei outra, então usei a que tinha no banheiro – disse se referindo à toalha.
- Tudo bem – sorri internamente por saber que ele pensava que eu me importaria com isso. – A comida está pronta. – disse e sai em direção à cozinha, com Justin atrás de mim.
                Devo admitir que, apesar de estar acostumada a vê-lo de cueca, era estranho vê-lo de cueca na minha sala em um momento no qual não pensávamos em transar. Depois de jantarmos, colocamos meu colchão de casal na sala e jogamos sobre ele travesseiros e cobertas. Não fazia frio. Na verdade estávamos com o ventilador do teto rodando no volume máximo e mesmo assim não parecia suficiente. No entanto o costume de dormir enrolada nas cobertas era mais forte que o calor. Colocamos “Invocação do Mal” no aparelho de DVD e nos deitamos. A princípio, mantivemos uma distância um do outro. Mas logo Justin abriu o braço e eu me aconcheguei no seu ombro. Seu cheiro natural invadindo minha narina mais uma vez. Ele parecia realmente totalmente sóbrio, e era bom não tê-lo cheirando álcool. É claro que fui contra a escolha desse filme, implorei que víssemos uma comédia, mas Justin prometeu que na próxima vez eu escolheria e que me protegeria se ficasse com medo. Acreditei nele como uma criança acredita na história da cegonha. Confiar em Justin era algo que de alguma maneira me assustava. Como se eu fosse capaz de realmente crer em Papai Noel se fosse ele a me contar sobre isso. No meio do filme, depois de já ter me encolhido diversas vezes para não olhar a tela da televisão, Justin quebrou o silêncio entre nós.
- Megan – sua voz saiu rouca, e devo dizer que a preferia assim. Apertei sua mão como sinal de que ele poderia continuar – Obrigado. Digo, por ter me escolhido mais cedo. É uma sensação boa. Ser escolhido por alguém. Principalmente se esse alguém for você.
                Ergui a cabeça para olhá-lo e vi que não desviara o olhar da televisão.
- Ok – disse apenas e tornei a me aconchegar em seu ombro.
- Você gosta de mim? – disparou, me surpreendendo com a pergunta. Nunca passou pela minha cabeça que ele se importava com isso. Quase que simultaneamente nos olhamos, seus olhos estavam brilhando e transmitindo o que eu chamaria de... paz.
- Sim. E gosto de estar com você. – respondi primeiro porque era a verdade, segundo porque sentia que era o que ele precisava ouvir.
                Justin sorriu e eu devolvi o sorriso. Depois me deu um beijo na testa e voltou sua atenção ao filme. Fiz o mesmo, apesar de estar cansada o suficiente para não conseguir me concentrar no que acontecia na tela. Senti minhas pálpebras pesarem, de repente fiquei leve e foi como se pudesse voar, logo perdi todos os sentidos.
                Abri os olhos devagar devido à luz matinal. O primeiro som que reconheci foi da respiração de Justin, acima da minha cabeça, estávamos exatamente do mesmo jeito que dormimos. Ele dormia em um sono profundo, estava quase roncando. Dei um beijo em seu nariz, levantei-me cuidadosamente para não acordá-lo e fui direto ao banheiro. Tomei um banho demorado e vesti-me com uma camiseta bem maior que eu e um short de malha curto. Fui para cozinha e coloquei água para ferver. Quando estava lavando a louça, senti alguém segurar minha cintura e em seguida me abraçar por trás, beijando meu pescoço. Senti meu corpo todo se arrepiar e desejei que ele não notasse, apesar de ser quase impossível levando em conta que estava colado em mim. Justin soltou um risinho. Virei o pescoço e beijei sua bochecha.
- O que foi, voltamos ao jardim de infância? – disse em tom de deboche. Revirei os olhos e selei nossos lábios demoradamente. – Legal. Progredimos. Agora estamos no Ensino Fundamental. – respirei fundo e deixei um copo de lado. Virei-me de frente para ele e com as mãos cheias de sabão segurei seu pescoço, sem pestanejar beijei-o. Mas foi um beijo de verdade. Deixei transparecer o quanto queria ter feito isso antes. Às vezes não tem problema deixar o orgulho de lado. Às vezes dar um beijo com sabor de “quero ser amada” não faz mal. Justin beijava bem. Na verdade, devia ter dito isso antes. Diria que ele era melhor nisso do que qualquer outro homem que já tenha beijado, e isso que foram muitos. O segundo lugar vai para... Bryan. Mas todos querem sempre o primeiro lugar, seja relacionado a beijo ou a melhor e mais nova tecnologia. Com Justin certamente não era diferente. Todas as meninas o desejavam. Ninguém dava créditos ao segundo e terceiro lugares. Gostaria que dessem, pois Bryan merecia, assim como o futuro homem do terceiro lugar, que eu ainda não descobrira. De repente, lembrei-me da noite anterior e do olhar decepcionado que ganhara de Bryan. Parei o beijo. Situei minhas mãos e percebi que estavam na bunda de Justin, logo as recolhi. Ele umedeceu os lábios e disse:
- Ensino Médio. – deu um sorriso de canto.
- Posso saber quando seríamos adultos?
- Quando você estiver na cama, nu, me olhando com cara de safada, com uma música não necessariamente lenta tocando.
                Soltei uma risada alta. Justin ficou sério.
- O que foi? Sexo agora é só para desconhecidos? Se eu for procurar outra pra satisfazer minhas vontades você não reclama. – senti meu sangue ferver no instante que ele terminou. Agora também estava séria.
- Eu não quero brigar. E pelo amor de Deus, pense muito antes de dizer algo a mim. Você me machuca com isso e nem sabe o quanto. Meça as palavras. – apesar de nervosa, automaticamente deixei meu lado emotivo falar. Um dos meus piores defeitos. Baixei a cabeça.
- Deixa de ser dramática. Se for porque disse que vou procurar outra, é exatamente o que vou fazer se continuar com essa sua postura de idiota. – cuspiu as palavras.
- Eu não sou só sexo, Justin! – disse alterando a voz - Já basta ter que transar todos os dias para conseguir dinheiro, ser humilhada e julgada pelas pessoas que acham que faço isso por prazer. Mas eu não tenho opção! Cansei disso. E se quiser ir procurar outra, tudo bem. Eu vou entender. Não eu não sinto ciúme de você. Não sou sua dona e não é como se estivéssemos namorando. – disse tudo muito rápido, gostaria de piscar e voltar ao momento em que ele ainda dormia e eu acabara de acordar.
- Então não foi nada pra você? – disse em seu tom de voz normal - O elevador, o brigadeiro – é, eu andei treinando -, a ida à minha casa, quando eu vim aqui depois de nos encontrarmos no mercado, nossa primeira vez, ontem... O que aconteceu com aquele “sim” quando te perguntei se gostava de mim? Pois é, eu já estava sóbrio. Lembro-me de tudo depois do banho. Para de fingir que não sente nada, Megan. – terminou de dizer e tinha mágoa no olhar. Senti-me culpada, apesar de saber que não era.
- Se quiser saber a verdade, Justin, vou te dizer. Eu sinto, e eu realmente gosto de você. Mas eu me sinto assustada, pois nunca senti isso antes e ambos sabemos que eu não posso... – ele me interrompeu.
- Eu não me importo se você se prostitui. Na verdade, ontem eu fui na boate pra te encontrar e te dizer que não precisa mais fazer isso.
- E você acha que vou fazer o que? Viver do seu dinheiro? – ri sarcasticamente – Não rola.
- Não necessariamente. Nós transamos e eu te pago por isso. Prostituição pra uma pessoa só. Será que não dá pra deixar o orgulho de lado pelo menos dessa vez? Assim além de ficarmos juntos, você não é obrigada a ir àquela boate toda noite pra ganhar uma mixaria.
- Podemos conversar sobre isso depois? – disse e suspirei. Justin assentiu.
- E desculpe. Eu sei que você é mais que um corpo bonito.
                Sorri. O que mais poderia fazer? Eu acreditava nele.
- Justin – ele me olhou como se esperasse que eu continuasse. Por um momento pensei em ficar calada, talvez não tocar no assunto fosse o melhor a se fazer. Mas minha curiosidade era maior e soltei antes mesmo que percebesse: - Ontem, antes do banho, você estava muito chapado. E mencionou algo sobre uma pessoa. Disse que sentia falta dela. – pigarreei – Quem é Trisha?
                Seu rosto se iluminou. Parecia não acreditar que falara dela. Abriu a boca mas não emitiu som algum e então tornou a fechá-la. Nunca achei que o veria tão sem jeito.
- Eu... Trisha era minha namorada. Quando vim pra cá, há três anos atrás, eu a trouxe também. Mas ela nunca mais voltou. Os pais dela me culpam até hoje. Acho que faria o mesmo. É complicado. Ainda não estou preparado para falar sobre isso com você, então...
- Tudo bem, Justin. Quando você preferir – sorri e ele retribuiu. – Eu posso chamar um táxi e te deixar no seu hotel, vou precisar sair.
- Vai à casa do Bryan, acertei?
                Minha garganta travou e meus olhos devem ter se arregalado. Tudo que pude fazer foi ficar intacta. Podia jurar que até minha respiração parou. Justin riu.
- Eu não ligo. Não tem problema você ir. Ele deve estar chateado por ontem e se fosse o contrário, eu gostaria que você fosse atrás de mim. Só não pode abusar, ok? Deixe os beijos comigo.
                Ri, sentindo-me despetrificada.
                A cada passo estava mais perto da casa de Bryan e a ideia de ainda não saber exatamente o que lhe falaria estava me desesperando. Parecia que meus pés pesavam dez vezes mais que o normal. Respirei fundo e bati na porta. Depois outra vez. E mais uma. Ia levantar a mão para fazer novamente mas ela foi aberta. E o que vi na minha frente definitivamente não era o que eu esperava muito menos o que eu queria. Jenny, a garota da sorveteria, estava lá, com os cabelos negros caindo sobre os ombros e me olhando como se quisesse dizer “ótima hora para aparecer e estragar tudo”. Desejei que ela percebesse que eu não estava feliz em vê-la tanto quanto ela não estava em me ver. Bryan chegou por trás dela, segurando em sua cintura com as duas mãos, e com uma expressão de surpresa ao pousar os olhos em mim. Tentei dizer algo, mas minha voz parecia ser a única coisa não funcionando no meu corpo. E naquele momento, ela parecia ser mais importante que o bater de meu coração. Juntei todas as minhas forças.
- Posso... – engoli em seco. Não conseguia nem completar uma frase, quem dirá me desculpar com Bryan. Ele e Jenny se entreolharam e depois de um meneio de cabeça dela, saiu e assim fez com que o ar ficasse de alguma forma mais leve.
                Bryan deu dois passos e fechou a porta atrás de si. Me olhava sério como nunca fizera antes.
- Olha, eu... – me interrompeu. Apesar disso, eu sabia que conseguiria continuar. Isso me levou a uma conclusão: o motivo da minha falta de voz era Jenny. Ou talvez apenas a presença inesperada dela.
- Não, Megan. Não se desculpe. Poupe-se de fazer isso. Você teve escolha, e estava em sã consciência, então não pode ter se arrependido de verdade.
- Eu não me arrependi. A questão é que não precisa ser assim. Vai deixar de falar comigo por ter ido ajudar Justin, quando ele não tinha ninguém, e você sua irmã? Isso tão idiota, será que não percebe?
                Ele baixou a cabeça e coçou a testa.
- Deixei bem claro que era pra me esquecer se fosse com ele. Não vou voltar atrás com isso.
                Dei-me por vencida.
- Se é assim que você quer, tudo bem. Sabe onde me encontrar.
                Bryan olhou em meus olhos uma última vez, e não consegui decifrar o que eles tentavam transmitir. Mas de uma coisa tinha certeza: aquele brilho não era normal. Estavam marejados. Virei-me e apertei os passos em direção à saída do condomínio. Senti seu olhar pesar em minha costa. Talvez quisesse que eu insistisse. Que implorasse para que ele não me deixasse. E eu faria isso. Faria mesmo. E por que não fiz? É uma pergunta para a qual não tenho resposta e talvez nunca tenha.

Continua...

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